O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) surgiu no final da década de 1990, como uma tentativa de avaliar o ensino médio no país e, posteriormente, fornecer uma base para a seleção de estudantes para o ensino superior. No entanto, ao longo dos anos, o ENEM passou por uma transformação significativa, distanciando-se cada vez mais da realidade da maioria dos alunos.

Eu fiz um dos primeiros ENEM, nem sabia para que servia… 

A descontextualização da prova em relação à vida cotidiana dos estudantes é flagrante. Estou na educação básica há mais de 12 anos e sei do que estou falando… o Enem é uma celeuma de questões abstratas e muitas vezes desconectadas da experiência de vida da maioria dos jovens são apresentadas como um critério de avaliação. Isso cria uma barreira intransponível para alunos de escolas públicas, que frequentemente não têm acesso aos recursos e oportunidades desfrutados pelos alunos de instituições particulares. Não é estranho justificar que houve cerca de 28,3% de faltosos! 

Eu sou professor da rede particular atualmente, e vejo isso como um privilégio! Isso mesmo, há um abismo enorme entre essas realidades, a começar pelos livros didáticos, o preparo e interesse dos alunos, a grande quantidade de serviço burocrático dos professores da escola pública! Que hora pensar no Enem??

Hoje é dia dos memes dos “atrasados”! Mas, para além das irresponsabilidades alheias existem aqueles que tiveram o ônibus atrasado, tiveram que caminhar quilômetros a pé… mas, no jargão popular “quem quer acorda cedo!”... Será? Será que é só acordar cedo? É válido ressaltar que muitos chegaram nos carrões do papai com ar condicionado no 12! 

A meritocracia, anunciada como um mecanismo de justiça social, se revela, na prática, um sistema que favorece aqueles que já desfrutam de vantagens socioeconômicas. A noção simplista de que o mérito é um fator isolado, sem considerar as disparidades estruturais e os obstáculos enfrentados por muitos estudantes, é não apenas ingênua, mas profundamente injusta. O ENEM é injusto! 

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), por sua vez, enfrenta desafios monumentais na tentativa de nivelar a qualidade do ensino entre escolas particulares e públicas. As discrepâncias em recursos, infraestrutura e formação de professores criam um abismo praticamente intransponível que as diretrizes curriculares por si só não conseguem preencher.

Torna-se importante reavaliar não apenas o propósito, mas também a eficácia do ENEM. É preciso buscar alternativas que assegurem uma avaliação verdadeiramente justa e inclusiva. Ignorar a desigualdade de oportunidades é um erro que não podemos mais cometer. Políticas educacionais mais abrangentes devem ser implementadas para verdadeiramente promover a igualdade de acesso ao ensino superior. Romantizar o ENEM é um equívoco que apenas perpetua as disparidades que deveríamos estar combatendo. 

Antes de rir dos atrasados do ENEM é bom reavaliar pois,  essa prática demonstra um sintoma da precariedade da educação no país, esse comportamento reflete o que já é comum dentro das salas de aula: o bullying