Atualmente uma doença antiga voltou à baila no noticiário Patense: a Leishmaniose! Mas, não se engane trata-se de uma doença há muito tempo conhecida e, infelizmente, nossa região é endêmica.
As Leishmanioses são causadas por protozoários do gênero Leishmania que são parasitos microscópicos que infectam grande número de mamíferos, inclusive o homem. Apresenta-se na forma cutânea e visceral, sendo a última a forma mais severa da doença que pode levar ao óbito, caso não seja diagnosticada e tratada precocemente. Acomete principalmente homens e cães.
De acordo com vasta literatura, sabe-se que a primeira descrição, sobre as Leishmanioses foi na Índia no ano de 1885, já em 1903 foi descrito o seu agente etiológico e posteriormente em 1933 foi investigada pela primeira vez a doença em seres humanos.
As Leishmanioses são transmitidas pela picada de insetos, assim o agente transmissor no Brasil é mosquito Lutzomyia longipalpis, também conhecido como "mosquito-palha, tatuquira, cangalhinha e birigui", cujos hábitos alimentares são vespertinos e noturnos. Esse mosquito é o vetor, ou seja ele leva a o parasito de um animal ao outro, e tem grande facilidade de se adaptar às variadas temperaturas encontrando-se tanto em domicílios quanto nos abrigos dos animais domésticos.
Estima-se, de acordo com OMS, que a cada ano ocorram 900 mil a 1,3 milhões de novos casos de leishmaniose, com 20 a 30 mil óbitos. A leishmaniose é de caráter crônico com manifestações clínicas variando entre 3 meses a 7 anos após a contaminação pela picada do mosquito.
O cão é um dos maiores hospedeiros do parasito, dessa maneira ele também pode ficar doente com várias manifestações clínicas desde animais assintomáticos, até animais com doença severa.
Para humanos existe tratamento porém, até o ano de 2016 não se podia tratar cães infectados, o indicado era a eutanásia. Inclusive, o MAPA no ano de 2008 publicou uma portaria impedindo o tratamento de cães com medicamentos para humanos, pois trata-se de uma doença de interesse coletivo de notificação compulsória.
Todavia, atualmente existe um medicamento registrado no MAPA para cães o MILTEFORAN, indicado para o tratamento da leishmaniose visceral nestes animais. Assim, é permitido o uso deste fármaco no tratamento individual de cães com diagnostico laboratorial confirmado, desde que o médico veterinário siga as indicações da bula, oriente o tutor e notifique o órgão responsável.
O conhecimento regional epidemiológico sobre doenças endêmicas é de extrema importância. Assim alguns estudos em nível regional tem sido realizados em Patos de Minas (suas fontes estão referenciadas no final deste texto).
Desta feita, em âmbito regional e, de acordo com a secretaria municipal de Saúde de Patos de Minas-Vigilância Epidemiológica (este órgão avalia os casos registrados como positivos e negativos na regional de Patos de Minas, tal área abrange mais 18 municípios das mesorregiões do Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba, Noroeste e Norte de Minas), entre janeiro de 2010 e junho de 2019 foram notificados 1170 indivíduos suspeitos de Leishmaniose Visceral Canina e/ou Humana sendo que 304 (25,98%) indivíduos receberam o resultado positivo, enquanto 866 foram negativos, e em alguns casos, inconclusivos (1).
Os dados das pesquisas demonstram que no período de 2015 a 2019 foram notificados 73 casos de Leishmaniose em Patos de Minas, elevando a região com endêmica para a doença (2).
Os resultados dos estudos demonstram que “há uma maior frequência entre homens com idade de 50 a 59 anos em casos autóctones (locais) com a maioria de casos tratados em Leishmaniose cutânea” (2).
Os resultados ainda apresentam que os três municípios que mais registraram casos no período de 2010 a 2019 foram: João Pinheiro, Brasilândia de Minas e Patos de Minas, nestes o número de casos de Leishmaniose Visceral Canina foi maior que os casos de Leishmaniose Visceral Humana, um estudo também foi conduzido em Patrocínio apresentado a mesma tendência(1, 4).
Assim, evidencia-se que o Alto Paranaíba, o Noroeste de Minas e o Triangulo Mineiro são regiões com frequência elevada da doença tanto em humanos quanto em animais.
Cita-se ainda um relato de caso que acompanhou um tratamento de um cão acometido com o medicamento MILTEFORAN e que teve um prognóstico positivo, a cadela está com a doença controlada(3).
Por fim, fica a advertência que estudos epidemiológicos a partir dos próprios dados dos municípios conclui-se que os municípios dessa região apresentam uma alta frequência, todavia a Leishmaniose é uma doença prevenível a partir da eliminação do criatórios dos mosquitos e da exposição direta a estes, mas, sobretudo, salienta-se que processos educativos que devem ser implementados com mais afinco!
Ressalta-se o grande serviço de iventariamento dos cães realizado pela vigilância epidemiológica e da saúde em Patos de Minas, bem como a ideia de “microchipar” os cães. Porém, é preciso orientar a população, pois nada vale “mandar fazer sem explicar por quê!” Assim medidas educativas de ampla divulgação tem muito a colaborar para a saúde coletiva, sobretudo contra a leishmaniose.
Na oportunidade parabenizo os pesquisadores da região que tem pesquisado sobre a epidemiologia da doença.
*Ps.: Minha solidariedade a família que perdeu sua filha em decorrência de complicações da Leishmaniose no último mês em Patos de Minas.
Referências
1. PEREIRA, Fabiano Borges et al. Avaliação da tendência temporal e da prevalência de leishmaniose visceral canina e humana dentre os anos de 2010 a 2019 em municípios de Minas Gerais Brasil. Arq. Ciênc. Vet. Zool. UNIPAR (Online), p. e2409-e2409, 2021.
2. SANTANA, Carlito Trigueiro; MELO, Hugo Christiano Soares; PEREIRA, Saulo Gonçalves. FREQUÊNCIA DE CASOS LEISHMANIOSE NO MUNICÍPIO DE PATOS DE MINAS ENTRE 2015 E 2019 E A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO PARA SAÚDE NA PREVENÇÃO. Revista Interdisciplinar Encontro das Ciências-RIEC| ISSN: 2595-0959|, v. 3, n. 3, 2020.
3. DOS SANTOS, Gabriela Brito Bispo; PEREIRA, Saulo Gonçalves; SANTANA, Driele Scheneidereit. LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA: RELATO DE CASO DE UM TRATAMENTO E ACOMPANHAMENTO. Scientia Generalis, v. 2, n. Supl. 1, p. 102-102, 2021.
4. MOREIRA, M. R. JUNIOR, J. M.R. Aspectos epidemiológicos da raiva e Leishmaniose em cães no município de Patrocínio, Minas Gerais, REVISTA ANIMAL EM FOCO, VOL. 1, N. 1, JUL./DEZ. 2019
@saulo.goncalves.188
Créditos ao Mv. Mestrando Fabiano Borges Pereira e Dra. Sandra R. Afonso Cardoso.
Sábio mais ou menos
15/07/2022 13:04É uma doença que deve ter muito mais. Só que o povo não faz exame. Fiz uma vez de graça no posto e foi negativo. O Saulo foi meu professor deu até saudade das piadinhas ruins. Cara muito sabido e legal. Parabéns