Ultimamente tenho visto e ouvido tanta politicagem em torno do tema: “Agronegócio”, que resolvi falar um pouco de quem sou, do que penso e do que tenho presenciado. Porém, deixo claro que, obviamente, sou a favor do agronegócio, pois além de trabalhar para o agro, eu sou filho da agricultura familiar e com muito orgulho!
O Agronegócio, por definição, é a reunião das diversas atividades produtivas que possuem ligação com setor agrícola, pecuário e da silvicultura, as quais podem se estender para além do campo, sendo entendida então, como uma série de ações que compõem a cadeia produtiva. Dessa forma, o agronegócio ultrapassa a divisão clássica econômica das atividades, definidas como primárias, secundárias e terciárias, pois abrange todos esses setores, é entendido como uma grande rede negocial, onde são operados contratos, movimentações financeiras e realizados negócios atrelados à atividade agrícola.
Conceitualmente o agronegócio pode ser classificado em três fases: “antes da porteira”, que são atividades que antecedem a produção, tais como os insumos, arame para cerca, material de construção, combustíveis. A fase do “dentro da porteira”, que são as atividades de produção propriamente ditas, por exemplo: o mão de obra para pecuária, o plantio, a colheita e, por fim, o “depois da porteira”, que são todas as atividades de logística, beneficiamento e comércio.
Ainda, o agronegócio pode ser dividido em atividades diretas e indiretas, no primeiro exemplo, são as atividades que estão estritamente ligadas, como por exemplo a fazenda, o laticínio. E a segunda, são atividades que ligam-se de forma indireta, tais como a loja de roupas que vende para os funcionários do laticínio... e por aí vai.
Se prestarmos atenção é fácil perceber que muitas atividades estão ligadas ao agronegócio diretamente ou indiretamente, sobretudo para as cidades do interiorzão do Brasil. Logo, não seria exagero dizer que todos somos um pouco “Agro”.
Outro dia mencionei esses conceitos em um grupinho de conversa..., expus humildemente minhas ideias, pois de fato estou ligado ao agronegócio e tenho consciência disso... . Porém, fui chamado a atenção, (depois risos intensos dos companheiros de papo) pois, segundo eles, eu não sou agro, pois não tenho caminhonete e não tenho um palmo de terra para cair morto (risos).
Não retruquei, visto que são falas do senso comum! Para eles o agro somente é o "grande", o dono da caminhonete, da terra, da colheitadeira. Todavia, para eles a mão de obra que presta serviço, os técnicos, consultores os mecânicos que estão prestando serviço para esse produtor rural não são o agro, e logo, não são “tec.”, não são “pop”, não são “tudo”.
Esta é a mesma visão que se tem da colonização... Ou seja, desde o século XVI estamos sendo explorados, desmatados, nosso povo original escravizado e morto, a mão de obra escrava trazida da África, todas as caridades conhecidas, tudo por conta de uma ideia que o Agro são “eles”, e não “nós”.
O que me incomoda é a subserviência aos grandes produtores. O peão assalariado continua ganhando o mesmo provento desde sempre... E o grande produtor... é fácil de saber, dê uma andadinha nas avenidas principais de suas cidades e perguntem quem mora por ali...
Outro fator que me assusta é o enorme desconhecimento do que é agricultura familiar. Ela também é Agro!
A agricultura familiar é parte das atividades do agronegócio que leva comida à nossa mesa. Em citação direta, o site do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento apresenta que: “Agricultura Familiar é a principal responsável pela produção dos alimentos que são disponibilizados para o consumo da população brasileira. É constituída de pequenos produtores rurais, povos e comunidades tradicionais, assentados da reforma agrária, silvicultores, aquicultores, extrativistas e pescadores. O setor se destaca pela produção de milho, raiz de mandioca, pecuária leiteira, gado de corte, ovinos, caprinos, olerícolas, feijão, cana, arroz, suínos, aves, café, trigo, mamona, fruticulturas e hortaliças.”
Portanto, o “zé das couves”, o leiteiro, o vendedor de ração, o médico veterinário também são agronegócio.
O crédito rural é outra incógnita para mim, pois não consigo compreender tantas dificuldades de acesso ao financiamento para os pequenos e médios produtores (faça qualquer simulação de crédito em qualquer banco e verás). O "grande" sempre terá como pagar, mesmo que fique “mal das pernas”, pois ele tem a própria terra como garantia. Já o pequeno, tem muito pouco...
No entanto, os números do agronegócio no Brasil são muito promissores, pois de acordo com qualquer site popular de pesquisa os dados estão lá... Só crescendo, só contribuindo com o PIB, só aumentando as exportações. Nos últimos 40 anos a atividade teve um crescimento médio de 29,4% na economia geral. Ainda o agro tem um peso de cerca de 26% do PIB brasileiro. De fato tudo isso é bom! E eu tenho que concordar, pois eu também sou Agro. Porém, mesmo sendo tão representativo o agronegócio não pode tudo, sobretudo no que se refere a questões ambientais e sanitárias.
Portanto, a atual discussão política deveria estar pautada em saídas para um agronegócio mais sustentável ambientalmente, com crédito mais acessível, além de que a educação deveria trazer mais esclarecimentos sobre o tema para que respeitemos melhor os “agros” em todos os seus aspectos.
Enfim, eu sou “agro do pé rachado” lá beira do Brejo Cumprido e do Retiro da Roça e tenho orgulho disso, sobretudo por saber qual meu lugar nessa classe e aonde posso chegar!
Zé Silveira
10/11/2022 21:55Parabéns, belíssima explanação. Bela colocação do agro pequeno e de sua suma importância na economia.