Há alguns anos, por intermédio de um grande professor que eu tive, o Dr. Júlio César Nepomuceno, li um excelente texto intitulado: “Ciência, Bruxas e Raças” do professor Phd. Sérgio Danilo Pena da UFMG. Na época, confesso que achei a leitura densa e precisei reler o texto umas duas vezes para compreender a síntese do que ali estava posto. 

Me recordo que foi algo que me impactou bastante na época, pois com esta leitura percebi que a ciência pode, não apenas com técnicas e métodos, mas com esclarecimentos e orientações mudar a sociedade. Porém, me desquietou saber que era (e, é) necessário, ainda, discutir o óbvio! 

A ciência precisa esclarecer! 

O professor Danilo explicitou que do ponto de vista biológico, não existe “raça humana”. Essa comprovação já é confirmada pela genética clássica e se tornou um fato científico irrefutável com os espetaculares avanços do Projeto Genoma Humano, ainda no ano de 2003. Não existe raça branca, negra, ariana, amarela... . Somos todos humanos, da espécie humana (Homo sapiens), porém devido a ações ambientais e genéticas temos apenas diferenças físicas. 

Penso que o que tenha me impactado na época foi, realmente, uma discussão que me pareceu descabida sobre este tema (mesmo isso tendo acontecido há alguns anos). “ - Como isso ainda pode ser debatido, tendo em vista estar tão claro que todos nós somos seres humanos?”. 

O texto foi publicado no ano de 2006 e dizia que no futuro a diferenciação de “raças”, seria tratada como algo passado e arcaico, algo que quando olhássemos para traz iríamos pensar: - Como aquele povo pode pensar assim? Que povo ignorante! 

Enfim, quase quinze anos se passaram e parece que ainda vivemos numa época em que se “queimam bruxas”, porém a forma de queima-las agora se chama “rede social”. 

Percebo pouca melhora, ou seja, as pessoas ainda pensam que existem raças e diuturnamente presenciamos o extremo racismo, preconceito e xenofobia. 

De acordo com o Artigo 6º, da Declaração Universal dos Direitos Humanos “toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como pessoa perante a Lei (TRINDADE, 1999, p. 11)”. Assim, não somos “todos macacos”, somos todos HUMANOS e todos independe da cor, origem, identidade sexual, classe social merecemos respeito. 

A pergunta é: Por que eu seria melhor ou pior que você? 

Na citação direta ao professor Danilo: “Um pensamento reconfortante é que, certamente, a humanidade do futuro não acreditará em raças mais do que acreditamos hoje em bruxaria. E o racismo será relatado no futuro como mais uma abominação histórica passageira, assim como percebemos hoje o disparate que foi a perseguição às bruxas” (PENA, 2006, p. 01). 

Eu que pensei que passados 15 anos estaríamos melhores! Aguardo o tempo em sejamos vistos com igualdade e a que a ciência tenha mais valor! 

 

PENA, D. S. Ciência, Bruxas e Raças. Folha de S. Paulo. 02 de agosto de 2006, no caderno principal, página 3, Tendências/Debates. 

TRINDADE, A. A. C. Tratado de direito internacional dos direitos humanos. Porto Alegre: Sergio Fabris, 1999.

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