O ano de 2020 não nos trará boas lembranças, inclusive na área ambiental. Infelizmente foi um ano “enorme” e, por isso, muitas situações podem já estar depositadas no esquecimento de nossos arquivos cerebrais. 

Infelizmente vivemos neste tempo em que os temas ligados à área ambiental são desprezados e esquecidos, por isso vale a pena relembrarmos e refletirmos sobre o que aconteceu – ou não – na área ambiental em 2020. 

O ano já se iniciou com o alarde de um novo vírus descoberto na Ásia e que, supostamente, teria sido proveniente de animais silvestres. Por certo, muitos de nós não demos a devida atenção, pois afinal de contas era, até então, um tema desconhecido, todavia sua origem e disseminação está associada à falta de Educação Ambiental/Saúde, desmatamento, e óbvio, às más condições sanitárias e culturais daqueles povos. 

Como em quase todo início de ano, os meses de janeiro e fevereiro são marcados pelas intensas chuvas, todavia, em 2020 o número de mortes e desabrigados foi recorde. Em contrapartida, a estiagem nos estados do sul e do norte também foi a maior dos últimos anos. Tais fatores, inegavelmente, estão associados às mudanças climáticas, à ocupação irregular do espaço, e ao acumulo de resíduos. 

No segundo trimestre, após o início do distanciamento social e quarentena, a triste situação da COVID-19 trouxe a desaceleração econômica o que, paradoxalmente, provocou uma considerável diminuição na poluição do ar. Tal situação subsidiou alguns aprofundamentos e estudos sobre como a poluição está diretamente associada ao consumismo e ao uso de combustíveis fósseis. 

Abril foi o mês do “Passando a boiada” onde o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, destacou que [...] “ precisa ter um esforço nosso aqui, enquanto estamos neste momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só falam de Covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas”. Tais declarações convergiram em ano “historicamente negativo para área ambiental” com o maior desmatamento, as maiores queimadas, no Brasil, nos últimos 30 anos. Além da péssima imagem do país no exterior. 

Maio foi o mês, segundo o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), que registrou 171% de acréscimo no desmatamento da Amazônia Legal, em comparação ao mesmo mês em 2019. Época esta que a presidência da república começou a negar com veemência que exista desmatamento no Brasil, demitindo gestores e alegando – sem provas – que os dados dos institutos seriam inverídicos. 

Antes do meio ano o Brasil já havia liberado mais 118 títulos de agrotóxicos, número este maior que em todo ano de 2019. É importante dizer que a produção de alimentos está diretamente associada aos agrotóxicos, todavia é discussão que merece grande reflexão, ainda! 

O segundo semestre começou com a iminência da nuvem de gafanhotos vindos das terras dos hermanos argentinos, felizmente (felizmente para quem?) os insetos não chegaram ao Brasil. Porém, vale destacar que estas nuvens são provenientes de alteração climáticas fazendo os gafanhotos se reproduzirem mais rapidamente e, ainda, a inexistência de predadores naturais. 

O Pantanal queimou, você viu e às vezes nem imagina o que aconteceu. Segundo o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foram 4,1 milhões de hectares queimados, o que corresponde a 28% do Pantanal. As perdas à biodiversidade são incomensuráveis, e seu tempo de renegação é incalculável. Ah! nesta época também foi criada a imagem do “boi bombeiro”, figura imaginária que faria com que a biomassa do bioma diminuísse e o fogo não prepararia (pausa para os risos). 

Neste ano ainda tivemos, a naja de Brasília, a liberação e a revogação da exploração em áreas de Restinga e Manguezais, a alteração e melhoria da Deliberação Normativa da Educação Ambiental em Minas Gerais. Além de mais queimadas na região do Alto Paranaíba, com destaque para a “queimada anual” na Mata do Catingueiro, o que incendeia uma rápida discussão na cidade de Patos de Minas, porém sem ações práticas fomentadas pelo poder público, apenas por ONG’s e voluntariado que se esforçam muito!

Enfim, o ano foi longo, muitas coisas foram esquecidas, arquivadas ou simplesmente negligenciadas em nossa memória por não darmos “importância” ao meio ambiente! 

Porém, fica a reflexão: se somos parte do meio, e se apenas temos este meio, não seria lógico pensarmos nele como integrantes?

Que 2021 seja muito, muito melhor! 

 

PEREIRA, Saulo Gonçalves. Retrospectiva ambiental de 2020. 2021. Disponível em: https://www.patoshoje.com.br/blog/retrospectiva-ambiental-de-2020-65284.html. Acesso em: dia mês. ano.