Encostar em um cone é falta eliminatória.
O jornal Estado de Minas publicou uma matéria na última semana chamando a atenção para o número expressivo de reprovação de candidatos à carteira de habilitação em Minas Gerais. 64% dos candidatos mineiros não conseguem tirar a carteira, percentual muito superior ao do Rio de Janeiro (51%) e de São Paulo (23%). Em Patos de Minas, a situação é ainda mais preocupante. O índice de reprovação na cidade chega a 85% no exame de direção para carros.

De acordo com informações do site oficial do DETRAN, no mês de janeiro, a média de aprovação das 16 autoescolas credenciadas de Patos de Minas foi apenas de 14,48% na prova prática para candidatos à categoria B. Dos 686 candidatos que prestaram a prova de direção, apenas 99 foram aprovados. Uma média de reprovação muito superior a de outros exames. Para motocicletas, a média de aprovação é de 60,36%. Na prova de legislação, a aprovação é de 62,76%.

As autoescolas estão preocupadas com o resultado porque elas devem manter um índice de aprovação em 60%, caso contrário, podem ter o credenciamento suspenso pelo DETRAN. Entramos em contato com alguns dos centros da cidade e eles apontaram o rigor excessivo do examinador e a falta de critérios objetivos na avaliação como sendo os principais fatores para essa quantidade de reprovação. O Ministério Público de Minas Gerais anunciou que vai fazer a lei ser cumprida, apesar de que, pelos números, quase todas seriam descredenciadas.

Outras questões também foram levantadas. O número de aulas exigido pela legislação pode não estar garantindo a preparação adequada do candidato. Atualmente, especialistas consideram que apenas 20 aulas práticas são insuficientes para formar o motorista e desejam dobrar esse número. O fator psicológico é outra causa. Muitas pessoas ficam nervosas quando estão sendo avaliadas e acabam não conseguindo realizar o teste da forma correta.

Os responsáveis pelas autoescolas esperam que os examinadores revejam o rigor com que estão avaliando os candidatos. Eles alegam que tem alunos que já foram reprovados até 15 vezes, mesmo passando por dezenas de aulas. “Nós queremos que nossos alunos sejam aprovados, pois sabemos que o valor da CNH hoje não fica barato”, afirmou o responsável por um Centro de Formação de Condutores que preferiu não se identificar.

Eles também desejam uma maior fiscalização no trânsito e aplicação das penalidades previstas no Código de Trânsito Brasileiro para diminuir os índices de acidentes. Segundo as autoescolas, o curso de reciclagem para os motoristas que têm a CNH cassada não está sendo cumprido na cidade. “Poucos alunos passaram por esse curso durante todo o ano de 2012”, afirmou um responsável por outra autoescola. Eles afirmaram que a fiscalização tem um poder muito maior para coibir as infrações de trânsito e prevenir os acidentes.

Os alunos também estão revoltados com o índice de reprovação. Conversamos com alguns deles quando aguardavam para realizar o teste e a maioria falou que o rigor na avaliação e a falta de critérios objetivos estão entre as principais causas. Outros lembraram a falta de cordialidade dos examinadores. “Um candidato que foi reprovado por seis vezes disse que muitos nem respondem bom dia”, afirmou. Mas, eles reconhecem que o nervosismo atrapalha.

E, por outro lado, o psicológico é assinalado pelos examinadores como a principal causa da reprovação. Eles disseram que até dão chances, mas tem alguns que ficam muito ansiosos e cometem falhas eliminatórias. “Encostar no cone durante a baliza é falta eliminatória.”, exemplificou um examinador. E isso acontece principalmente por causa do nervosismo, já que os próprios candidatos reconhecem que a manobra não é tão difícil.

De acordo com o Delegado Regional Elber Barra Cordeiro, um dos principais fatores responsáveis pela expressiva reprovação é a forma com que as autoescolas estão ensinando os alunos. “Elas estão preocupadas em fazer com que o aluno aprenda a passar na prova. Isso está errado. O candidato tem que mostrar que sabe dirigir em toda a cidade”, afirmou. Ele reconheceu que os examinadores são rigorosos, mas dentro do que exige a lei e da forma que tem que ser. “Não há qualquer reclamação de perseguição.”, justificou. Quanto à falta de cordialidade, apesar de também não existir queixa, ele disse que isso será recomendado na próxima reunião. “Urbanidade e cordialidade cabe em qualquer lugar”, concluiu.

Autor: Farley Rocha