Quando mais jovem eu conheci uma moça que veio do norte para estudar. Graças ao PROUNI e ao grande sacrifício de sua família, a garota graduou-se como Engenheira. Agora a cidadã... “cidadã não, engenheira formada; melhor do que você!”, está em melhores condições de vida, tem uma renda melhor, já não é tão pobre como antes, mas... Após tornar-se uma nova integrante da classe média baixa (graças ao PROUNI, insisto) a jovem adotou um discurso mais alinhado com a elite, ela critica programas sociais, tem medo da esquerda, e defende a “meritocracia”!

              A jovem engenheira é o exemplo mais bem acabado da “Síndrome de Dona Florinda”. A personagem do seriado Chaves é viúva de um marinheiro, mora num cortiço, é pobre, mas se sente superior aos demais moradores da vila por ter uma renda fixa, (pensão de viúva). Florinda reputa os vizinhos como uma “gentalha”, e educa seu filho mimado para ter o mesmo sentimento de superioridade. Quico mostra tudo que aprendeu com a mamãe tentando humilhar e causar inveja em Chaves ao exibir comida e brinquedos que o pobre garoto do barril não tem acesso. Quico me lembra o exibicionismo do Instagram!

              Houve outro caso de síndrome de Dona Florinda que eu presenciei: certa feita estava eu numa reunião de pais de alunos na escola em que minha filha estudava. Entre os presentes havia uma mulher branca, muito bem vestida, aparentando ser classe média alta ou rica. Mas ela estava na reunião de pais de uma escola pública. Curioso demais comecei a conversar com a criatura, e logo ela se abriu e reclamou de sua filha estar naquela escola, disse que queria que sua filha estudasse numa escola particular onde encontraria colegas de sua mesma “classe social”. Fiquei pensando que talvez aquela senhora fosse realmente uma pessoa rica, uma empresária, dona de alguma loja de grife, ou casada com algum super-fazendeiro. Ao perguntar a minha filha quem era a mulher em questão, fiquei sabendo que se tratava tão somente da esposa de um PM! Percebam que simplesmente por ser casada com um policial, a mulher achava que sua filha não poderia estudar em escola pública, no meio daquela “gentalha” pobre. A “fina dama” era a Dona Florinda em pessoa!

             O Brasil está cheio de cretinos assim, é o famoso classe média baixa que acha que está quase rico, mas está mais perto da pobreza que da riqueza. É um pobre melhorado que ainda consegue manter um carro e comer carne todo dia, mas se tiver algum contratempo mais sério precisará recorrer ao empréstimo consignado. É critico das universidades públicas, e das bolsas, mas não tem condição de pagar um curso de odontologia ou medicina. Essa espécie odeia qualquer menção a justiça social, direitos trabalhistas, sindicatos, e não pode ouvir falar em bolsa família, mas precisou de Fies, PROUNI, e ajuda financeira da família pra estudar. Responda-me com sinceridade, em quem você acha que essa gente vota? Na pandemia vimos gente dessa tal classe média fazendo campanha de arrecadação de dinheiro para pagar tratamento médico, tipinhos que achavam que nunca iriam precisar do SUS, mas na hora do pega pra capar o plano de saúde falhou. Finalizando essa prosa peço que você não seja uma Dona Florinda, e entenda de uma vez por todas que classe média é apenas uma versão “gourmet” da pobreza.