HÁ QUASE DUAS semanas, ao reportar o recrudescimento das medidas de contenção da pandemia no Distrito Federal — e não tardou serem ardilosamente tachadas de "estado de sítio" —, a coluna destacou o avanço da covid sobre a população mais jovem e logo o tema ganhou espaço no noticiário nacional.

Não sou infectologista, virologista ou especialista em qualquer área da biomedicina ou ciências afins. As incursões que faço nesse campo são baseadas em estatísticas e conceituados estudos amplamente divulgados na mídia.

O vírus, como já se esperava que pudesse ocorrer, evoluiu para uma forma mais mortífera. Entretanto, soa equivocada a análise desses dados em particular — o aumento de casos da moléstia em faixas etárias menos elevadas. Parece precipitado concluir que um upgrade do coronavírus possa ser menos agressivo em pessoas da terceira idade, com imunidade naturalmente baixa, do que em pacientes jovens.

Minha leitura é a seguinte: porque muitos idosos receberam ao menos a primeira dose da vacina, esse grupo de risco, como um todo, se tornou pouco suscetível a (re)infecções. Encontra-se mais protegido, em suma. Se correto, tal entendimento conduz a pelo menos duas constatações lógicas.

Primeira: as vacinas são eficazes contra a nova variante; segunda: o atraso em sua aquisição e distribuição custou vidas, milhares de vidas.

Foram 15 mil mortes na semana passada. O monstro responsável por parte delas, por milhares antes dessas e por outras milhares na iminência de ocorrer, tem nome, sobrenome e patente: CAPITÃO JAIR MESSIAS BOLSONARO.

Exatamente um ano atrás (22 de março/2020), o capitão desdenhava da grave ameaça que se aproximava: a covid-19 matará menos de 800 BRASILEIROS, DURANTE TODA A PANDEMIA, assegurou, comparando com as vítimas da H1N1 e como se estas fossem insignificantes.

As estimativas feitas pelo "mito", como de praxe, se mostraram fajutas, e rapidamente o quantitativo TOTAL antevisto foi suplantado pelos óbitos registrados DIARIAMENTE. O coronavírus e suas variantes matam MAIS DE DOIS MIL brasileiros todos os dias — e a pandemia ainda está muito longe de um termo.

Em sua defesa, o hipócrita trata os números como mortes inevitáveis: "Todo mundo morre um dia", justificou, chegando a ridicularizar, em sua "live" de horrores na última quinta, uma vítima asfixiada.

Muitas dessas mortes teriam, sim, sido evitadas se no epicentro da hecatombe mundial não faltassem vacinas, oxigênio, médicos, sedativos, leitos e políticas sociais. Não faltasse senso de humanidade no alto escalão do Executivo federal e ao homem que negou aos brasileiros milhões de doses de imunizantes: apenas do laboratório Pfizer e do Instituto Butantan foram 120 milhões.

No que diz respeito à CoronaVac, medicamento testado e ofertado desde a entrada do segundo semestre, carecia,  segundo o capitão, de "comprovação científica".  Comprovação científica, no entanto, dispensável para ele prescrever cloroquina, cujos efeitos em pacientes com covid são comprovadamente DELETÉRIOS ou, na melhor das hipóteses, completamente NULOS.

Confrontado com a chocante realidade, o capitão acaba de delegar ao novo ministro da Saúde uma recontagem dos óbitos, medida que, se levada a cabo com seriedade, resultaria em um número muito acima do divulgado hoje.

Que todos morreremos um dia é fato. Mas, se atos deliberados forem decisivos para uma morte precoce e dolorosa, o assassino deve ser levado à Justiça e responder por seu crime.

 

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