Ainda que a maioria das pessoas já esteja razoavelmente consciente da importância de diagnosticar e tratar a depressão pós-parto nas mães, a verdade é que a maioria das mulheres sequer é ouvida por um profissional da saúde capaz de detectar o problema e, consequentemente, não recebem tratamento. O que poucos sabem é que os homens também podem sofrer de depressão pós-parto e que o assunto quase nunca é abordado, o que deixa os pais ainda mais vulneráveis a um transtorno psiquiátrico tratável que, ao não receber cuidados, gera danos importantes a sua qualidade de vida, a sua relação com a criança e com a mãe da criança. 

Os sintomas da depressão pós-parto nos homens tornam o problema mais difícil de ser diagnosticado do que nas mulheres. Enquanto elas experimentam tristeza constante, baixa autoestima, desânimo ou cansaço extremo e outras coisas mais parecidas com a depressão clássica, os homens podem ficar mais agitados, mais irritados, com mais picos de raiva, mais mergulhados no trabalho, maior risco de envolvimento com bebida e com outros comportamentos normalmente interpretados como “coisa de homem”, agressividade ou simplesmente como algum tipo de “frieza emocional”[1]. 

Note que todos os comportamentos apresentados pelo homem que sofre de depressão pós-parto são facilmente interpretados com vieses sexistas. Noções como a de que “ser agressivo é normal”, de que “ser frio é normal” ou de que “o homem tem que trabalhar muito mesmo para prover a casa”, entre outras, normalizam comportamentos potencialmente prejudiciais ao próprio homem e as pessoas que convivem com ele. 

É importante ter em mente que que se tornou mãe recentemente já está emocionalmente sobrecarregada em razão da dimensão das mudanças que a maternidade traz e que a criação de uma criança demanda grande investimento afetivo por parte dos pais. Um pai com uma depressão pós-parto não tratada não apenas se torna menos capaz de participar ativamente da criação da criança, como também apresenta comportamentos que podem intensificar ainda mais o sofrimento da mãe e impactar negativamente o desenvolvimento da criança. 

De que forma a depressão pós parto masculina afeta a vida do pai? 

O artigo Perinatal mental health: Fathers - the (mostly) forgotten parent [2]  descreve os impactos da depressão pós-parto masculina sobre o casamento e sobre o desenvolvimento da criança. Conforme explicam os autores, um pai com depressão pós-parto tem menos interações positivas e mais interações negativas com a criança, o que significa que ele vai brincar menos com a criança, vai ser envolver menos com os cuidados, vai ser mais impaciente e menos sensível às necessidades do filho. Tudo isso em conjunto favorece o desenvolvimento de uma ampla gama de problemas emocionais e comportamentais nos filhos, como Transtorno de Conduta e Transtorno Desafiador Opositor. 

No casamento, a depressão pós-parto masculina eleva o nível de estresse, a quantidade e a intensidade dos conflitos, além aumentar as chances de a mãe também desenvolver depressão pós-parto. Observe que o cenário não é favorável: a maior prejudicada no processo é a criança, que totalmente dependente dos pais, crescerá em um ambiente menos sensível às suas necessidades e características. 

O quão comum é a depressão pós-parto masculina?

Enquanto a depressão pós-parto atinge cerca de 26,3% das mulheres[3], entre os homens a taxa chega a 25,5%[4]. Observe que a diferença é pequena! Não há dúvidas sobre a importância de prestar atenção se você, homem/ novo pai apresenta estes ou outros sintomas depressivos e buscar ajuda se eles existirem. 

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Esequias Caetano é Psicólogo e, para além da clínica, dedica-se ao estudo dos aspectos comportamentais/ psicológicos da política, cultura e economia. 

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MATERIAL CONSULTADO

 

[1]. Psouni, E., Agebjörn, J., &Linder, H. (2017). Symptoms of depression in Swedishfathers in thepostnatalperiodanddevelopment of a screening tool. ScandinavianJournal of Psychology, 58(6), 485–496. doi:10.1111/sjop.12396 

[2] Wong, O., Nguyen, T., Thomas, N., Thomson-Salo, F., Handrinos, D., & Judd, F. (2015). Perinatal mental health: Fathers - the (mostly) forgottenparent. Asia-Pacific Psychiatry, 8(4), 247–255.doi:10.1111/appy.12204

[3] Theme Filha, M. M., Ayers, S., Gama, S. G. N. da, & Leal, M. do C. (2016). Factors associated with postpartum depressive symptomatology in Brazil: The Birth in Brazil National Research Study, 2011/2012. Journal of Affective Disorders, 194, 159–167. doi:10.1016/j.jad.2016.01.020

[4] Goodman, J. H. (2004). Paternal postpartum depression, its relationship to maternal postpartum depression, and implications for family health. Journal of Advanced Nursing, 45(1), 26–35. doi:10.1046/j.1365-2648.2003.02857.x