Em pleno século XXI, após 136 anos da abolição da escravatura, há ainda quem se ache no direito de ofender alguém por motivos raciais. Na noite dessa terça-feira (10), uma paciente de 39 anos ofendeu uma técnica em enfermagem de 37 anos a chamando de “macaca” por diversas vezes na Santa Casa de Misericórdia, em Patos de Minas. E ainda argumentado criminosamente: "Ela por acaso é branquinha? Ela é negra, então vou chamar do que eu quiser!" A acusada também teria feito ameaças e desacatado os policiais. O marido da paciente contou que ela sofre de transtorno bipolar.

De acordo com informações da Polícia Militar, após serem acionados, os policiais foram até o hospital e a vítima relatou que, durante o turno de serviço, foi informada que uma paciente havia dado entrada para atendimento e passado a promover gritarias na recepção, motivo pelo qual havia sido encaminhada para uma sala de observação, onde ficaria aguardando atendimento médico.

Ainda segundo ela, durante suas funções, deslocou até a citada sala para medicar um paciente que estava no local, momento em que a acusada passou a interpelá-la de maneira desrespeitosa se o atendimento ainda demoraria a ser realizado, ocasião em que a técnica em enfermagem informou para a paciente que ela deveria aguardar, uma vez que havia outras pessoas que também estariam aguardando atendimento no local.

Neste momento, a acusada ficou bastante exaltada e proferiu os seguintes dizeres: “você deveria me tratar melhor, pois sou eu que pago seu salário”. A vítima então teria pedido para ela ter educação, levando-a a dizer: "faço o que eu quiser, sua macaca!" Segundo a ocorrência, ela teria repetido a ofensa por diversas vezes. Por fim, ela informou que em virtude da ofensa passou a discutir com a paciente, tendo ela, em determinado momento, realizado ameaças de agressões com os seguintes dizeres: "eu vou pegar você, vai ver comigo."

A paciente teria caminhado em direção à técnica em enfermagem, sendo contida pelo enfermeiro, que confirmou as ofensas e esclareceu que após a paciente chamar a vítima de “macaca”, chegou a censurá-la, dizendo que ela não poderia chamar a enfermeira de “macaca”, contudo a acusada afirmou o seguinte: "Ela por acaso é branquinha? Ela é negra, então vou chamar do que eu quiser!"

Em conversa com a acusada, ela em um primeiro momento negou ter realizado qualquer ofensa, relatando que após dar entrada para atendimento médico havido sido maltratada por uma enfermeira e que esta havia ido em sua direção para lhe agredir, ocasião em que foi contida por outro enfermeiro. Ao ser informada que teria que ser conduzida para a delegacia,  acusada demonstrou grande contrariedade e passou a dizer o seguinte: “já que vou ser presa, quando passar lá, vou chamar ela de “macaca” novamente, ocasião em que foi advertida pelo policial.

Ainda de acordo com a ocorrência policial, após colher as informações necessárias para o registro, a equipe permaneceu no local aguardando o atendimento médico da acusada, a qual em determinado momento apanhou seu aparelho telefônico e supostamente realizou ligação para uma pessoa, que era tratada como mãe. Durante a ligação, a acusada em voz alta, de maneira que fosse ouvida na parte externa da sala que estava, passou a relatar os fatos, conforme sua versão, tendo em determinado momento dito o seguinte: "vou chamar ela de “macaca” mesmo, melhor eu ser presa, senão venho aqui e mato ela."

Neste momento, foi determinado à acusada que encerrasse a chamada e desligasse seu aparelho telefônico, colocando-o em cima de uma maca que estava próxima à cadeira onde estava sentada. Ela encerrou a ligação telefônica, porém informou que não entregaria o aparelho telefônico, colocando-o em cima da cadeira, lateralmente ao local onde estava sentada, quando o policial apanhou o telefone, sem realizar qualquer tipo de contato físico com a autora, a qual de maneira dissimulada passou a gritar: "o policial me agrediu!"; tendo passado a mostrar seu braço direito dizendo: "olha aqui o que você fez comigo!"; postura esta que levou alguns enfermeiros a deslocarem até o local para verificar o que estava ocorrendo.

Em razão do comportamento dela, o aparelho telefônico foi entregue ao esposo dela, o qual foi orientado a deslocar até a delegacia de Polícia Civil para acompanhar a esposa. Ele disse para os policiais que sua esposa sofre com transtorno bipolar e depressão, faz uso de diversos medicamentos de uso controlado, sendo inclusive aposentada em razão de seus problemas de saúde. Nesta data, ela apresentou quadro de surto psicótico na residência da família, chegando a se auto lesionar, o que motivou o deslocamento até a Santa Casa de Misericórdia para buscar atendimento médico.

Ao chegarem hospital, ele informou o quadro de saúde de sua esposa e solicitou que fosse realizado algum tipo de medicação para acalmá-la, quando foi informado por funcionários do local, que seria necessário que esta passasse primeiro pelo médico. Ainda segundo ele, ao se deslocarem para o interior da Santa Casa, para aguardar atendimento em uma sala, a esposa fez uma pergunta a uma enfermeira, que respondeu com falta de educação e provocou o desentendimento entre as duas.

Por fim, ele solicitou que fosse registrado, que sua esposa foi liberada na Santa Casa sem receber qualquer atendimento relacionado a seu quadro de saúde psiquiátrico. Após atendimento e liberação da acusada, esta foi encaminhada para esta delegacia de Polícia Civil para demais providências. Durante o registro da ocorrência, na delegacia de plantão, a acusada questionava a todo momento a atuação dos militares, dizendo que estariam "fazendo hora com a sua cara" e que "eles estavam agindo apenas para mostrar serviço, porque devem ser novos na polícia." Ela deve responder criminalmente por injúria racial, ameaça e desacato.