O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino,
defendeu, nesta quinta-feira (26), mudanças na lei sobre terrorismo (Lei
13.260/2016), para “alargar” a definição e enquadrar as facções criminosas como
terroristas, para que sejam alvos de mecanismos mais rigorosos de
enfraquecimento financeiro.
“Quando falamos de terrorismo, lembramos sempre de organizações
globais articuladas com a disputa geopolítica por água, energia, território, e
que atuariam, inclusive, no Brasil. Mas temos que voltar nosso olhar também
para um aspecto que, lato sensu, eu classifico como terrorismo. Um domínio do
território, como milícias e facções que se estabeleceram no Rio de Janeiro, é
ou não é, materialmente falando, ato de terrorismo?”, questionou Dino.
Segundo ele, fechar os caminhos de financiamento deve ser o
centro da estratégia brasileira de superação da criminalidade organizada.
“Esse é o caminho verdadeiro e não ficções como esta do
alargamento infinito, fiscalmente inviável, dos contingentes policiais ou mesmo
essas demagogias rasteiras de sair dando tiro no meio da rua, achando que há,
nessas armas, balas de prata que vão, por encanto, definir a extirpação do
crime organizado, do terrorismo lato sensu do Brasil e assegurar paz que os
cidadãos e cidadãs brasileiros merecem”, defendeu.
O ministro participou do congresso sobre prevenção à lavagem
de dinheiro e ao financiamento do terrorismo da Federação Brasileira dos Bancos
(Febraban).
Segundo Dino, a legislação trata o terrorismo como o ato de
provocar terror social e generalizado, aludindo à sabotagem de meio de
transporte, “que foi o que esta facção de milicianos fez [no Rio de Janeiro],
tocou fogo em ônibus, trens e impediu a circulação de pessoas e mercadorias”.
Contudo, segundo o ministro, a atual lei exige que esses
atos derivem de preconceito ou discriminação por raça, cor, etnia e religião.
“E há aí um fechamento do âmbito de incidência da norma”, explicou.
A lei sobre terrorismo prevê pena de 15 anos a 30 anos de
prisão para “quem receber, obtiver, guardar, mantiver em depósito, solicitar,
investir ou de qualquer modo contribuir para a obtenção de ativo, bem ou
recurso financeiro, com a finalidade de financiar, total ou parcialmente,
pessoa, grupo de pessoas, associação, entidade, organização criminosa que tenha
como atividade principal ou secundária, mesmo em caráter eventual, a prática
dos crimes de terrorismo”.
Bloqueios
Segundo Dino, neste ano, a Polícia Federal (PF) já bloqueou
quase R$ 3 bilhões em ativos de organizações criminosas, identificados em
operações. No ano passado, os bloqueios chegaram a R$ 350 milhões de bens
vinculados a práticas criminosas.
Em uma só operação, segundo o ministro, foram bloqueados
aproximadamente 200 apartamentos de altíssimo padrão nas áreas mais nobre do
Brasil e que eram pertencentes a uma facção criminosa.
Dino explicou que está sendo constituída uma rede nacional
de recuperação de ativos, a Rede Recupera, no âmbito do conselho de governança
da Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (Enccla),
composto por 90 organismos.
Ele defendeu, ainda, uma maior integração das equipes de
inteligência da PF, do Ministério da Justiça e das polícias civis nos estados.
Dino citou que, em operação integrada recente, as forças policiais
desarticularam uma quadrilha que atuava em 20 estados e que movimentou R$ 500
milhões em um ano, com a prática de lavagem de dinheiro e transferências
financeiras por meio de criptomoedas.
Para o ministro, nessa integração é preciso ter um olhar
especial para esses aspectos da lavagem de dinheiro, “para que haja o enfraquecimento
do enorme poder financeiro que essas organizações ostentam”.
Enccla
O ministro explicou que a cada ciclo, a Enccla prioriza
temas de atuação. No atual ciclo que se encerra em novembro, com a plenária do
conselho, o foco foi os crimes virtuais, com destaque a criptoativos, e também
crimes ambientais, como mineração, desmatamento e grilagem de terras.
Além da Rede Recupera, Dino citou outras ações eficazes da
Enccla, como o programa de capacitação; a rede relativa a laboratórios sobre
tecnologias contra lavagem de dinheiro e a Rede Nacional de Polícias
Judiciárias no Combate à Corrupção (Renaccor), que promove a integração e troca
de experiências entre policiais civis e federais.
Fonte: Agência Brasil
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