Na terça-feira (09), o programa Contraponto, do PH Play, recebeu a economista patense Inayara Amaro Kjaer, conhecida no mundo dos negócios como Ina Kjaer. Uma das mais respeitadas economistas da Europa e duas vezes capa da revista Financial Times, Ina comentou sobre o momento econômico do mundo em meio à pandemia de Covid-19 e deu dicas para empreendedores.

Nascida em Patos de Minas, Ina é a CEO e co-fundadora da EOS Deal Advisory, empresa de consultoria de compra, venda, integração e separação de grandes empresas com sede em Londres, no Reino Unido. Segundo ela, os próximos anos não serão fáceis para a economia europeia e mundial, mas também há perspectivas positivas.

“Por um lado, serão anos difíceis, porque a economia vai demorar a se recuperar. A economia está sofrendo enormemente, já que o que impede a recuperação é o vírus. Por outro lado, os próximos anos também serão de inovação. Acabamos de provar que podemos mudar completamente a maneira como trabalhamos”, afirmou a brasileira.

Perguntada sobre a situação do Brasil, Ina disse que o país precisa buscar uma maior estabilidade para voltar a atrair investimentos.

“O investidor estrangeiro, hoje, tem medo de investir no Brasil, por achar o país instável, tanto politicamente, quanto economicamente. Isso envolve também a moeda, as políticas econômicas e tudo que o país está fazendo”, afirmou a economista, que também indicou a importância da vacinação em massa nesse processo. “A estabilidade só vai acontecer com a vacinação em massa. Os países que vacinarem a população primeiro também vão recuperar suas economias primeiro”.

Outro ponto levantado pela especialista patense foi a manutenção do auxílio emergencial. De acordo com Ina, apesar dos percalços, o benefício é importante na retomada da economia.

“Não é uma situação fácil. Acho que os países europeus foram privilegiados em conseguir ajudar sua população, e o Brasil não tem os mesmos recursos para isso. Mas acredito que o auxílio emergencial seja chave para o país aguentar esse período enquanto a economia não se recupera”, afirmou.

Além disso, com a pandemia de Covid-19, muitos brasileiros precisaram se jogar no mercado como empreendedores. Ina deu dicas às pessoas que estão pensando em começar um negócio, dos mais simples aos mais complexos.

“Quem decide a hora de começar a empreender é a gente mesmo. Não existe hora perfeita para entrar no mercado, porque nunca é possível saber tudo que vai acontecer. É impossível prever o futuro. Então a pessoa deve começar [um negócio] quando se sentir pronta para isso”.

“Os investidores estão sempre à procura de projetos diferentes, que vão mudar o mercado e gerar lucro”, acrescentou Ina, destacando a energia solar como um caminho interessante de investimentos. “É um setor que vai explodir nos próximos anos. As empresas já estão começando a procurar”.

Conheça a história de Ina Kjaer

Filha de Gessymar e Donaldo Amaro, Ina saiu de Patos de Minas para estudar Ciências da Computação na UFMG na década de 1990. Durante a graduação, foi selecionada para um intercâmbio em Paris, onde conheceu o marido, o engenheiro dinamarquês Jesper Kjaer. Os dois são pais dos adolescentes Nikolas, Theo e Maya. Hoje, a família mora em Copenhague, capital da Dinamarca.

Ainda em Paris, em 1998, Ina começou a trabalhar como estagiária na KPMG, uma das quatro maiores empresas de consultoria e auditoria do mundo. Segunda ela, foi na empresa que ela se apaixonou por seu trabalho.

“Quando eu comecei na KPMG como estagiária, tive a oportunidade de fazer projetos bastante diferentes. Na primeira vez que fiz uma integração, eu me apaixonei e tenho feito isso nos últimos 20 anos. Já fiz mais de 600 transações na minha carreira”, conta Ina.

A economista passou 20 anos nessa consultoria até chegar ao cargo de sócia na sede de Londres. Nesse período, atendeu projetos de compra, venda, junção e separação de empresas como Embraer, Nestlé, Shell, Telefônica e Adnoc. Como executiva de finanças, percorreu a maioria dos países do mundo.

Em 2019, Ina resolveu deixar esse cargo no auge da carreira. Coincidentemente, aquela foi a época em que o departamento que chefiava bateu todos os recordes de faturamento.

“Eu decidi sair por um desentendimento com a minha empresa, por não concordar com a maneira que ela estava sendo tocada. Foi uma decisão muito difícil, porque eu saí de uma zona de conforto em que eu estava há muitos anos”, conta Ina, que, em primeiro de outubro de 2019, lançou a consultoria EOS Deal Advisory, em sociedade com Maggie Brereton. “Já a decisão de empreender foi muito mais fácil, porque quando eu olhei para o mercado e as oportunidades, me deu uma vontade enorme de fazer isso”.

Logo em seguida, veio a pandemia de Covid-19, e os primeiros projetos de fusão de empresas evaporaram em março de 2020. Desde então, Ina precisou se reinventar e passou a atender empresas associadas a private equities no controle de caixa. Esses projetos de menor proporção abriram as portas para empresas do portfólio da KKR, uma gigante dos Estados Unidos. Apesar do sucesso, Ina revelou ainda ter planos para o futuro.

“Eu me sinto muito feliz de ter alcançado muitas das minhas metas profissionais. Mas, ao mesmo tempo, eu sinto que ainda estou no início. Ainda tenho muitas coisas para fazer, com muita energia e ambição”, afirmou.