O número de crianças e adolescentes com acesso à internet se
manteve com certa estabilidade, com um pequeno crescimento em 2023, apontou a
pesquisa TIC Kids Online Brasil, do Comitê Gestor da Internet no Brasil
(CGI.br), que foi divulgada hoje (25).
Em 2022, a população com acesso à internet correspondia a 92% ou aproximadamente 24,4 milhões nessa faixa etária. Já os que nunca tiveram acesso à internet correspondiam a 940 mil pessoas.
Entre os que disseram nunca ter acessado a internet na
pesquisa atual, mais de 475 mil correspondem a crianças e adolescentes que
compõem as classes D e E, o que demonstra que há desigualdades no acesso. As
crianças e adolescentes das classes D e E também são a maioria entre os que já
acessaram a internet, mas não o fizeram recentemente: 545 mil dessas crianças e
adolescentes das classes mais baixas disseram não ter acessado a internet nos
últimos três meses, um total de 867 mil.
O estudo, conduzido pelo Centro Regional de Estudos para o
Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e
Coordenação do Ponto BR (NIC.br), ligado ao Comitê Gestor da Internet no Brasil
(CGI.br), apontou ainda que em 24% do total de casos, o primeiro acesso à
internet aconteceu antes dos seis anos de idade. Em 2015, esse primeiro acesso
à internet acontecia mais tarde: apenas 11% das crianças tinham até seis anos
de idade quando acessaram a internet pela primeira vez. Em 2015, o primeiro
acesso à internet acontecia geralmente aos 10 anos (16%).
“A idade do primeiro acesso foi antecipada”, destacou Luísa
Adib, coordenadora da pesquisa TIC Kids Online Brasil. “Vinte e quatro porcento
das crianças e adolescentes reportam que acessaram a internet até os seis anos
de idade. Isso reflete pouco aumento na conectividade desses indivíduos”, falou
ela, em entrevista à Agência Brasil.
Forma de acesso
A principal forma com que as crianças e adolescentes acessam
a internet é pelo celular, que foi apontado por 97% dos entrevistados. O
celular é também a única forma de acesso à internet para 20% desse público.
Já o acesso da internet pela televisão tem aumentado nos
últimos anos, chegando a 70% em 2023. Em 2019, por exemplo, esse tipo de acesso
era mencionado por apenas 43% dos usuários.
O uso do computador para acesso à web, por sua vez,
manteve-se estável, em 38%, com predomínio entre o público das classes sociais
de maior renda (71%). Entre as classes D e E, apenas 15% dizem acessar a
internete pelo computador.
“Observamos, ao longo da série histórica, uma queda no
acesso da internet pelo computador, mas há uma diferença muito marcada entre as
classes socioeconômicas. As crianças das classes A e B acessam a internet por
uma variedade muito maior de dispositivos. E isso pode influenciar sobre o
aproveitamento de oportunidades, por exemplo, nas atividades de educação em
busca de informação. As crianças que acessam a internet pelo celular e pelo
computador realizam todas as atividades investigadas de educação em proporções
maiores que aquelas que acessam somente pelo telefone celular. Elas também vão
aproveitar mais oportunidades e ter condições de desenvolver mais habilidades
digitais”, falou a coordenadora do estudo.
Segundo ela, essa variedade do uso de dispositivos para
entrada na internet, além de questões relacionadas também à disponibilidade de
dados e à velocidade e qualidade de conexão são significativos para demonstrar
que ainda há muita desigualdade no acesso. “Temos 95% de usuários, quase a
totalidade de crianças e adolescentes nessa faixa etária que são usuários, mas
não podemos dizer que elas acessam a internet sob as mesmas condições. A
universalização do acesso tem muitas barreiras para serem cumpridas para que
haja uma conectividade significativa para todos os usuários”, disse.
Propaganda e conteúdo sexual
A pesquisa abordou a percepção de adolescentes entre 11 e 17
anos sobre as propagandas na internet. Segundo o estudo, 50% desses
entrevistados pediu que seus pais ou responsáveis comprasse algum produto que
viu na internet. Oito em cada dez entrevistados (84% do total) também relatou
que ficou com vontade de ter algum produto após vê-lo na internet e 73% ficaram
chateados por não poder comprar algum produto.
Para 78% desses usuários, as empresas pagam pessoas para
usarem seus produtos nos vídeos e conteúdos que publicam na internet. Seis em
cada dez adolescentes entre 11 e 17 anos (59% do total) também disseram ter
assistido a vídeos de pessoas mostrando como usar esse produto ou abrindo a
embalagem desse produto.
O que chama a atenção é que o número desses usuários que
relatam ter visto propaganda na web é alto, considerando que a propaganda
direcionada a crianças e adolescentes até 12 anos, em quaisquer meios de
comunicação ou espaços de convivência, é considerada ilegal de acordo com o
Código de Defesa do Consumidor de 1990.
“Há toda uma legislação que não permite que o conteúdo
mercadológico seja direcionado para criança e adolescente. Mas investigamos
alguns fenômenos ou forma como os conteúdos são postados na internet e vimos
que a criança tem o conteúdo mercadológico, mas ela não necessariamente
consegue identificar que aquela era uma mensagem sobre algum produto ou marca”,
completou a coordenadora da pesquisa.
Ainda de acordo com o estudo, apenas 28% dos pais utilizam
algum filtro ou configuração especial para restringir o contato das crianças
com propagandas na internet.
Uma outra questão analisada pelos pesquisadores foi o acesso
das crianças e adolescentes a conteúdos sexuais. Pelo menos 9% do total de
usuários entre 9 e 17 anos já viram imagens ou vídeos de conteúdo sexual na
internet nos últimos 12 meses. Na maior parte das vezes (34% do total), essas
imagens aparecem sem querer, seguida pelas redes sociais (26%). Cerca de 16%
das crianças e adolescentes também relatam ter recebido mensagens de conteúdo
sexual pela internet.
“Temos essa perspectiva sobre o risco mas também temos que
considerar que o contato com esse tipo de conteúdo pode ter sido uma busca de
informação, pode ter sido uma comunicação entre pais, então não necessariamente
isso foi um acesso indesejado ou algo problemático. Mas temos que olhar para
esse dado sabendo que existe um potencial dano ou incômodo e, a partir daí,
qualificar quem enviou essa mensagem e onde a criança teve esse contato. Por
isso reforçamos a importância da participação dos responsáveis no acompanhamento
das atividades que a criança e o adolescente realizam”, disse.
Em entrevista à Agência Brasil, a coordenadora do estudo
destacou que a internet não traz apenas riscos, mas diversos benefícios
destinados, por exemplo, ao lazer, ao conhecimento e ao entretenimento.
“Reforço que os benefícios estão associados às condições de acesso”, ressaltou.
“Os riscos têm naturezas diversas e podem ser de violências
sexuais ou comerciais, por exemplo. Há muitas possibilidades de contato ou
situações de risco na internet, mas eu sempre destaco que proibir, inibir ou
restringir a participação não necessariamente vai protegê-la do risco. Podemos
restringir o risco, mas também restringimos a oportunidade. Por isso indico o
diálogo e o acompanhamento dos responsáveis para saber que tipo de conteúdo ela
está acessando e com quem ela conversa.”
Para a pesquisa, foram ouvidas 2.704 crianças e adolescentes de todo o país, com idades entre 9 e 17 anos e 2.704 pais ou responsáveis. O estudo foi realizado entre março e julho deste ano. O TIC Kids Online Brasil é uma pesquisa feita anualmente desde 2012 e só não foi realizada em 2020 por causa da pandemia de covid-19.
Fonte: Agência Brasil
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