O engenheiro Leonardo Donizete da Silva, de 30 anos, um dos responsáveis por definir a estratégia do piloto inglês Lewis Hamilton a se sagrar vitorioso no GP Brasil nesse domingo (14) é de Patos de Minas. O patense foi ovacionado pelo piloto que dedicou a vitória ao piloto brasileiro Ayrton Senna e ao povo brasileiro. Hamilton sempre se apresentou como um grande admirador do Brasil e saiu ainda mais ídolo, ao congratular o único engenheiro brasileiro da equipe, que na verdade, é um patense.

O engenheiro patense recebeu o troféu de Hamilton. Ele entrou na Mercedes há cinco e, nesse domingo, coordenou o grupo de estratégias da equipe em Interlagos: "Corrida mais marcante da temporada". Léo não costuma assistir às corrida pela TV. Logo que acabou o GP de São Paulo de Fórmula 1, ele desligou o rádio e foi ao encontro de dois amigos de faculdade que estavam em Interlagos. Como ambos ostentavam a credencial VIP, Léo quis ver a premiação de Lewis Hamilton ao lado deles. No caminho, porém, foi parado por Toto Wolff, chefão da equipe Mercedes, que o avisou: você vai representar a equipe no pódio hoje.

- De cara pensei: "Não é sério, né?". Porque é uma coisa muito única. Tem muitos engenheiros aqui e a maioria deles nunca vai ter essa oportunidade. A maioria dos engenheiros e mecânicos nunca venceu uma corrida - disse à reportagem da Globo Espote, logo após receber o troféu de equipe vencedora da corrida, além de um banho de champanhe de Hamilton ainda no pódio de Interlagos.

Leonardo Donizete da Silva, de 30 anos, é engenheiro estrategista da Mercedes. Nascido em Patos de Minas, começou a trabalhar na equipe inglesa em janeiro de 2017 e está na quinta temporada na F1. Torcedor do Atlético-MG, graduado em engenharia mecânica pela Unicamp, ele já foi professor e trabalhou no mercado financeiro, em São Paulo, antes de se mudar para Brackley, outra cidadezinha, essa situada a duas horas de Londres. E é para a Inglaterra que ele volta já na noite deste domingo. Se vai dormir no voo? - Acho que vou dormir hoje porque dormi muito pouco ontem. E, se dormir, sonharei muito bem - afirmou.

A corrida foi espetacular, com Hamilton largando na décima posição e vencendo a prova em um fim de semana no qual recebeu duas punições que, juntas, fizeram o heptacampeão do mundo perder 25 posições em duas largadas. Para recuperar essas colocações na pista, o time de estratégia é fundamental, como explica Léo Silva.

- Um papel que acho que a gente ajudou o piloto em particular foi dar uma ideia visual do quão perto do carro da frente ele tem que estar para saber que é hora de usar tudo o que ele tem para fazer a ultrapassagem na próxima curva. A gente faz várias análises para o piloto e cada circuito tem sua peculiaridade. No Brasil, um dos pontos era esse, não gastar chance na hora errada. E esse é um trabalho que a gente faz para ele - detalha o mineiro.

O sonho de trabalhar na Fórmula 1 começou em um estágio, ainda nos tempos de faculdade em Campinas. A entrevista de emprego para entrar na Mercedes apareceu por insistência. Aquele estudante mandava e-mails profissionais, falando de Fórmula 1, toda semana para a equipe. Até que conseguiu uma entrevista, para uma área diferente da Mercedes. E a conversa foi acompanhada pelo chefe dos estrategistas da equipe. Cinco anos depois, lá está o mineiro ajudando a equipe a vencer corridas e levantando o troféu de vencedor em Interlagos.

- É indescritível. Não consigo pensar em outro momento da minha vida que se equipare a esse. Sou muito grato pelo time ter me permitido essa oportunidade. Muito feliz que foi uma corrida histórica. A corrida de hoje provavelmente é a corrida mais marcante da temporada, em uma temporada que é das mais marcantes da história recente. Espero que aqueles que sabem que me ajudaram a chegar até aqui se sintam representados lá em cima, como todos os brasileiros, porque não tem muitos aqui e me sinto grato de ser um deles - celebra Léo.

Ele é o único brasileiro da Mercedes no time de pista. Na fábrica da equipe, há outro. Agora, além de Mauro Borges e Matheus Birigui, os colegas de faculdade que estavam no paddock, o Brasil inteiro sabe que ele é o engenheiro estrategista que ajudou Hamilton a chegar à 101ª vitória da carreira na F1.

- Não sou a pessoa que toma decisão, eu coordeno o grupo de estratégias em algumas corridas e passo sugestões pro pitwall. Minha relação com o Hamilton é, durante o fim de semana, mantê-lo a par de quais são os planos, quais estratégias a gente planeja executar na corrida, quais cenários ele precisa estar preparado. Passo tudo o que ele precisa saber quando a corrida começa - explica o engenheiro que considera esta a temporada mais difícil que já participou.

Com a vitória, Hamilton reduziu a vantagem de Max Verstapen de 21 para 14 pontos. No Mundial de Construtores, a Mercedes ganhou um respiro na liderança ao aumentar a diferença para a RBR de dois para 11 pontos. Ou seja, o Brasil vai ficar marcado na trajetória da Mercedes.

- O Lewis confia muito na gente e é muito aberto. Ele é muito inquisitivo, ele quer saber de tudo, perguntar tudo. Se não estiver convencido, ele vai perguntar. Assim ele consegue ser tão bom no que faz. É muito envolvido com o time. É uma inspiração muito grande poder trabalhar com ele. Esse campeonato é um exemplo de que vai até a última volta de Abu Dhabi. Se você estiver desmotivado, é só olhar para o lado - disse o engenheiro brasileiro.

Fonte: GE