Brasil teve 18 mil mães com 10 a 14 anos de idade em 2020

Número foi citado durante o Ciclo de Debates sobre saúde das mulheres, promovido pela ALMG. Violência obstétrica também foi abordada nas discussões.

Números impressionantes sobre a gravidez na adolescência no País e as implicações das desigualdades sociais e raciais na saúde das mulheres brasileiras foram alguns dos temas que chamaram a atenção durante as palestras desta segunda-feira (6) à tarde no Ciclo de Debates Sempre Vivas - Saúde para Todas, realizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e entidades parceiras para discutir os impactos do machismo, do preconceito e da violência sobre a saúde feminina.

Um dos números mais marcantes citados durante as palestras foi o de 18 mil mães com idade entre 10 e 14 anos durante o ano de 2020, no Brasil. Em tese, todas elas vítimas de violência sexual e com direito ao aborto legal, que lhes foi negado. O dado do IBGE foi comentado por Maria Nogueira, pesquisadora da Escola de Saúde Pública de Minas Gerais, que também é doutora em Ciências da Saúde pelo Centro de Pesquisa René Rachou/Fiocruz-MG.

Maria Nogueira foi debatedora do primeiro tema tratado nesta tarde: "Saúde sexual e reprodutiva, educação sexual nas escolas, gravidez na adolescência e planejamento reprodutivo". Antes dela, a doutora em Psicologia Social pela UFMG, Paula Rita Bacelar Gonzaga, coordenadora do Grupo de Estudos sobre Psicologia e Aborto na América Latina, também falou sobre o assunto.

Desigualdade estrutural

Em sua palestra, Paula Rita destacou o impacto da desigualdade estrutural da sociedade brasileira na saúde das mulheres, em especial das mulheres negras. Citando dados do Ministério da Saúde, ela afirmou que 66% das mulheres que morrem no parto ou de complicações decorrentes dele são negras.

A doutora chamou atenção para o fato de que as políticas públicas, em geral, têm como referência uma mulher universal que é branca e sem deficiências, entre outras generalizações. As consequências disso se refletem nas estatísticas. "Temos a Lei Maria da Penha, mas, nos últimos anos, enquanto o feminicídio foi reduzido entre as mulheres brancas, aumentou entre as mulheres negras", afirmou.

Além dessas questões, tanto Paula Rita Gonzaga quanto Maria Nogueira ressaltaram a necessidade de se discutir sexualidade, inclusive entre os adolescentes, e não apenas tratar da reprodução ou de métodos contraceptivos. "Poucas de nós vivem uma sexualidade livre de coerção e de constrangimento."

No início do evento, a deputada Ana Paula Siqueira (Rede) destacou o caráter colaborativo do evento. Ela se referiu ao ciclo de debates como uma "construção coletiva robusta", com a participação de quase 100 instituições e entidades. A deputada presidiu o debate da tarde.

Muitas causas de mortes maternas são evitáveis

A degradação dos serviços de planejamento sexual e reprodutivo, assim como a falta de assistência pós-parto e de educação em saúde, são parte do trágico contexto de mortes maternas no Brasil. Muitas delas são evitáveis, como síndromes hipertensivas e hemorragias que ocorrem, sobretudo, no ambiente hospitalar.

A análise é da doutora em Saúde Coletiva Danúbia Mariane de Carvalho, que abordou, ainda, na segunda palestra da tarde, o pré-natal, a violência obstétrica e o parto humanizado.

Nesse cenário, a especialista argumentou que a assistência pré-natal não deve se ater apenas a cuidados técnicos ou exames laboratoriais, mas também garantir acolhimento e vinculação da gestante à rede de atenção e à maternidade. “Depois de dez consultas de pré-natal, muitas mulheres nem sequer sabem para onde ir ou o que vai acontecer após a gestação”, apontou.

Danúbia classificou como “tragédia” o salto no número de mortes maternas na pandemia de Covid-19 e alertou que muitas gestantes não estão vacinadas, em função da desinformação em torno da vacina. Segundo Danúbia de Carvalho, atualmente o parto humanizado é tratado como mercadoria, mas deveria ser acessível a todas as mulheres

Sobre a violência obstétrica, ela destacou a situação das mulheres que sofrem aborto natural. Segundo Danúbia, elas são as últimas a serem atendidas e dividem a enfermaria com mães e bebês recém-nascidos, mesmo vivendo um momento de luto. “A primeira pergunta que elas escutam é ‘o que você fez?’. Elas têm até medo de a polícia ser chamada”, pontuou.

Danúbia também avaliou que o parto humanizado, hoje tratado como mercadoria, tem que ser acessível a todas as mulheres. Nesse aspecto, ela defende a participação da enfermeira obstetra na equipe multidisciplinar de atuação no parto, o que não estaria ocorrendo em instituições mineiras.

A deputada Ana Paula Siqueira destacou que essa informação é importante para o Legislativo na fiscalização das políticas públicas.

Falta de tratamento agrava doenças do envelhecimento

O serviço de saúde pública brasileiro não oferece tratamento específico para mulheres na fase de climatério ou menopausa, o que compromete a qualidade física e mental dessa parcela da população. A advertência é da supervisora do Serviço de Climatério da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte e professora da Unicamp, a médica Ana Lúcia Valadares. Ela encerrou a programação do ciclo de debates, na tarde desta segunda (6).

Ana Lúcia afirmou que, nas unidades do Sistema Único de Saúde (SUS), existe apenas um medicamento utilizado para reposição hormonal e nenhum antidepressivo que seja eficaz no combate a alguns sintomas que surgem nessa fase da vida.

A falta de tratamento, segundo ela, pode desencadear o surgimento ou agravamento de muitas doenças que acometem as mulheres no processo de envelhecimento, como patologias cardiovasculares, depressão e vários tipos de cânceres, em especial o de mama.

A médica explicou que existem 48 sintomas comuns a essas mulheres, entre os quais as ondas de calor, irritabilidade, insônia, diminuição da libido, problemas de articulações e incontinência urinária. Segundo ela, pesquisa realizada na América Latina aponta que 90% das mulheres apresentam alguns desses sintomas e um quarto delas, de forma mais grave, afetando a qualidade de vida.

A professora também afirmou que 80% das mulheres com mais de 65 anos apresentam algum problema crônico de saúde e 68%, mais de um, como diabetes, pressão alta, colesterol, sobrepeso ou obesidade. A reposição hormonal na fase do climatério pode evitar ou minimizar o surgimento desses problemas.

Além da falta de tratamento pelo SUS, Ana Lúcia também lamentou a falta de profissionais de saúde especializados nessa fase da vida feminina. A médica ratificou que a mulher precisa ser acompanhada por diferentes profissionais, como nutricionista, fisioterapeuta e de diferentes especialidades médicas.

Ela acredita que o tratamento tem que ser individualizado e acompanhado de outras medidas para melhorar a qualidade de vida: alimentação saudável, atividade física regular, exercitar o cérebro, parar de fumar, beber moderadamente, imunizações e ingestão de vitaminas D3 e cálcio.

A presidente da Associação Menopausa Feliz, Adriana Ferreira, também lamentou a falta de atenção na saúde pública e os altos preços dos medicamentos para a reposição hormonal, que custam mais que R$ 100 mensais, valor que muitas mulheres não têm condições de arcar.

Fonte: ALMG

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