Madalena fala sobre “vida sem sonhos” em entrevista ao vivo para jornal de alcance nacional

Ela sempre almoçava depois da família e que se encontrou com o combatente, com quem se casou em 2003, apenas no dia do casamento.

A doméstica Madalena Gordiano que foi resgatada no Centro de Patos de Minas no final de 2020 concedeu sua primeira entrevista ao vivo na manhã desta terça-feira (12). Ela conversou com os repórteres do UOL, Thiago Rabelo e Leonardo Sakamoto. Mostrando mais alegria, ela disse que praticamente não teve sonhos durante sua vida. “Fui tirada da escola para trabalhar”, disse. Ela sempre almoçava depois da família e que se encontrou com o combatente, com quem se casou em 2003, apenas no dia do casamento.

A entrevista começa falando sobre os momentos após o resgate. Ela disse que passeou, comprou roupa, calçado, vestido de bolinha, foi ao shopping e ao restaurante. Ela ainda foi ao salão, arrumou as unhas do pé e da mão. “Nunca tinha feito”, disse. Ela passou o natal na casa da madrinha de consagração. “Foi ótimo”, disse. Ao comentar sobre sua boneca que se chama “Madá” seu rosto se encheu de alegria. “Moreninha, vestido amarelo de crochê, igualzinho eu. Minha filhinha. Nunca tinha ganhado uma boneca”, disse sorrindo. A fala revela que ela teve sua infância desapropriada.

Com relação ao natal, ela disse que foi ela quem armou a árvore e que fará isso em todos os natais. Nos anos anteriores, a situação não era legal. “Não tinha natal, não podia ir à missa, não participava do natal deles [família Riqueira] e não sentava à mesa com eles. Segundo ela, eles viajavam para São Miguel e ela ficava sozinha. “Não aguentava acompanhar a família. Quando a sogra [Dona Elvira, mãe de Valdirene] que era doente morreu, a situação ficou pior

Madalena também falou de como era o dia-a-dia nos 38 anos que passou com a família Rigueira. Segundo ela, levantava cedo, passava um “monte” de roupa, fazia café, limpava a casa, limpava o banheiro. Ela disse que ficava até de noite, na hora de deitar, limpando as coisas, as costas até doía. Trabalhava até enquanto tinha serviço. O trabalho seguia até 20h00, quando deitava, e acordava às 2h00. “Eu virava um bagaço e começava a trabalhar de madrugada”, contou.

Madalena não ia muito ao médico. Segundo ela, ia pouquinho, chegando a ficar sem dente por muito tempo. “Ia banguela para a igreja”, disse. Mostrando a humildade que foi obrigada a adquirir, ela destacou: “Tudo que vem para mim é bom”. E falou também sobre a relação dela com os vizinhos e os fiéis da missa. “Não podia falar nada”. Segundo ela, a patroa Valdirene  falava que ela ia para missa só para fofocar. Ela era muito chata, burricida”, frisou com a cara fechada.

A doméstica contou que acha que os vizinhos desconfiavam da situação em que ela vivia, mas não podiam falar nada. Segundo ela, a família não combinava com o pessoal do prédio e não a deixava conversar com o povo do prédio. E quando questionada sobre se podia sair de casa, ela disse que não tinha como sair. “Fazia um pedido para Deus para dar uma luz, um lugar para sair, não estava aguentando mais. A mulher nervosa e o homem nervoso, minha casa era a igreja, acreditava em Deus que ia me dar à luz. Graças a Deus, eu consegui”, disse.

Conforme Madalena, desde o dia que entrou na casa não era bom. “Não eram legais, eles não eram bons. O quarto não tinha janela para fora, no guarda-roupa tinha material de limpeza, tapetes, vassoura” relatou. Havia outros quartos vazios no apartamento, mas ela não queria deixar o quarto, não gostando de ver televisão e gosta de rádio e música sertaneja.

A família, de acordo com Madalena, implicava com ela, não gostando que ela pintasse as unhas de vermelho, não podia deixar o cabelo crescer. “Agora me acostumei com o cabelo curto, difícil de mudar. “Deixar o cabelo crescer para ficar mais bonita”, brincou. E ela concedeu uma declaração que mostra o momento difícil pelo qual passou. “Não sinto mais nada pelos Rigueiras, quero nem saber”, disse. Ela falou que sofreu muita angústia, chorou bastante, está tomando remédio e ainda chora. Após ser perguntada, Madalena disse que sente medo de ser perseguida, medo de morar sozinha, medo de alguém mandar persegui-la.

Ao ser questionada se os Rigueiras a procuraram depois do resgate, ela respondeu: “Eles não chegaram perto de mim, nem pode, tem que prender”, disse mais séria.

Com relação a dinheiro, ela disse que não podia pedir para a família, dizendo que estava gastando demais. “Recebi um dia em janeiro e depois só em fevereiro. “[Me] dava uns R$300,00 ou R$200,00 e pedia ajuda para os vizinhos”, disse. Segundo Madalena, pretende voltar a estudar. “Fui tirada da escola para poder trabalhar, disseram que eu já estava mocinha. As contas eu não sei até hoje, só contar prata... muito pouco”, falou.

Ela também falou sobre a pensão de mais de R$8 mil a que tinha direito. “Não sabia que tinha direito. Nunca morei com o combatente da 2ª Guerra, Marino Lopes da Costa. Só encontrei com ele no dia do casamento. Não tinha como comprar sabonete, a cabeça explodia, trabalhava e nada estava bom”, contou. Sobre o casamento, ela disse que aceitou, mas toda a situação mostra com fortes indícios que ela foi persuadida a aceitá-lo.

Sobre suas refeições no apartamento dos Rigueira, ela disse que sempre almoçava depois da família, respondendo positivamente ao ser perguntada se fica com a sobra. Madalena ainda diz que em seus aniversários, 19 de junho, nunca chamava os amigos da igreja e que quase não tinha sonho. “Agora sou inspiração para muita gente. Tenho que ficar forte”, contou.

Madalena passou dos 8 anos até os 46 anos com a família Rigueira. Segundo os auditores fiscais e Profissionais do Ministério Público do Trabalho, ela não recebia salário, nem tinha direitos trabalhistas. Ela também não recebia a pensão de mais de R$ 8 mil a que tinha direito. Manter funcionário em situação análoga à de escravidão também é crime previsto no Artigo 149 do Código Penal Brasileiro, com pena de reclusão de 2 a 8 anos e multa.

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