Acusação mentirosa de estupro leva homem de 49 anos a ser sequestrado, torturado e morto em MG
Três são suspeitos de sequestrar, torturar e matar a vítima
A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) realizou, na última
sexta-feira (19), a operação Pusilânime, que resultou na prisão de quatro
suspeitos, com idades entre 21 e 25 anos, na região do Barreiro, em Belo
Horizonte. Três deles são suspeitos de sequestrar, torturar e matar um homem de
49 anos, após receberem uma falsa denúncia de que ele teria cometido um estupro
no último dia 23 de junho. Dois desses suspeitos também foram autuados em
flagrante por tráfico de drogas.
Já o quarto homem, que não tem ligação com o crime, foi
preso durante os trabalhos policiais, já que foi constatado que contra ele
havia um mandado de prisão em aberto.
Alerta
A chefe do Departamento Estadual de Investigação de
Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP), delegada Alessandra Wilke, faz um alerta
sobre a divulgação precoce de crimes dessa natureza. “Temos que ter muito
cuidado em afirmar, sem ter comprovação, de que houve ou não um abuso sexual,
um estupro. Por isso que a gente só pode falar quando há comprovação”, disse.
A delegada ainda acrescenta que esse é o segundo caso de
homicídio recente ocorrido após a atribuição de culpa prematura de crime
sexual. “O outro foi de um senhor que foi espancado e queimado, no Alto Vera
Cruz. Na ocasião uma mulher alegou que esse senhor teria cometido abuso e,
depois, se apurou que não houve abuso nenhum. Então é muito sério a gente
falar, ainda sem comprovação, desse tipo de situação. São dois homicídios
recentes, fora outros casos, que a pessoa é acusada de um estupro, de um abuso,
e depois descobre que não teve nenhuma relação e foi vítima de homicídio”,
ressaltou.
Investigação
De acordo com o delegado Matheus Marques, que conduziu os
trabalhos, as apurações iniciaram com a localização do corpo, com dois disparos
de arma de fogo e sinais de espancamento, no interior de uma mata, abaixo do
pontilhão da linha férrea, no Barreiro. A equipe da PCMG apurou que a motivação
do crime seria um suposto abuso sexual contra uma criança, e que o crime teria
sido ordenado e cometido pelo pai da criança, que seria traficante na região.
Acusação falsa
Conforme apurado, a mãe da criança teria contratado uma babá
para deixar a filha. No terceiro dia que essa criança estava com a babá, a mãe
falou que não precisaria mais do serviço e falou que a filha estava com
comportamento estranho. “Ela levou a criança até o hospital para fazer os
exames. Foi constatado posteriormente que não houve abuso sexual pela perícia,
só que ela, naquele calor da emoção, começou a falar que haviam abusado da
criança, atribuindo culpa a um homem grisalho. Tal indivíduo era justamente o
irmão da babá. Segundo ela (babá) não houve nenhum contato, ele não chegou a
estar presente no mesmo local da criança”, ressaltou o delegado.
O crime
De acordo com o delegado, no dia dos fatos, a vítima estava
dentro de casa com seu irmão, os indivíduos bateram na porta, chegaram em um
veículo prata e chamaram pela vítima. “Os indivíduos pegaram ele à força, o
levaram para um beco, espancaram, torturaram, inclusive amarraram ele com peças
de roupas infantis – ele estava com os punhos e o pescoço amarrados com roupas
de crianças”, revelou Matheus. Ele ainda acrescentou que “essa é uma mensagem
que a organização criminosa local quer passar para a sociedade, que eles não
toleram esse tipo de crime. Só que não dão direito ao contraditório. Eles tomam
conhecimento do fato, já condenam e executam a pena”.
Em continuidade às investigações, a PCMG conseguiu
identificar cinco suspeitos de participarem do crime, sendo que um deles seria
o pai dessa criança. “Inclusive o gerente da boca de fumo que funciona na
localidade seria o pai dessa criança. Só que uma criança que não foi
registrada. Ele descobriu recentemente, fez exame de DNA, nos contou isso em
depoimento, e a gente conseguiu confirmar toda aquela linha investigativa que
tinha sido iniciada”, disse.
Os envolvidos no crime têm várias passagens pela polícia.
“Eles formam, na verdade, uma organização criminosa, responsável pelo tráfico
de drogas local, e como a gente sabe, exercem um poder paralelo, que foi
justamente a motivação do crime objeto do cumprimento dos mandados”, concluiu o
delegado.
Os suspeitos responderão por homicídio qualificado em razão
da tortura e impossibilidade de defesa da vítima. Outros dois envolvidos
continuam sendo procurados.
Fonte: Ascom PCMG