Pedreiro de Minas Gerais que matou 3 mulheres em Portugal para ocultar traição é condenado em MG
Réu escondeu os corpos em uma fossa séptica no seu local de trabalho e cerca de 20 dias depois fugiu para o Brasil, onde acabou preso e, agora, julgado e condenado por triplo feminicídio
Em julgamento realizado
perante o Tribunal do Júri da Justiça Federal na última quinta-feira (23), o
Ministério Público Federal (MPF) obteve a condenação do pedreiro Dinai Alves
Gomes, por triplo feminicídio e tripla ocultação de cadáver. Os crimes
ocorreram em 1º de fevereiro de 2016, na localidade de Tires, distrito de
Cascais, em Portugal, quando o réu matou a namorada, a irmã dela e a
companheira desta, fugindo depois para o Brasil.
Dinai Alves morava em Portugal
desde 2004, trabalhando como encarregado geral do Canil e Gatil Quinta Monte
dos Vendavais, situado em Tires. Embora tivesse companheira e uma filha no
Brasil, ele começou, em 2011, um relacionamento com Michele Santana Ferreira,
que emigrara para Portugal em 2008. Testemunhas afirmaram que se tratava de um
relacionamento bastante conturbado, inclusive com ameaça de morte feita pelo
acusado a Michele caso ela engravidasse.
Em novembro de 2015, Lidiana
Neves Santana, irmã de Michele, também resolveu fixar residência em Portugal, e
alguns dias depois de sua chegada, as duas se mudaram para a casa do
denunciado, passando a morar com ele. Pouco tempo depois, em 29 de janeiro de
2016, a outra vítima, Thayane Milla Mendes Dias, namorada de Lidiane, viajou
para Portugal e foi o próprio Dinai quem intercedeu junto ao Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras para que ela pudesse entrar no país.
No entanto, apenas dois dias
depois, a companheira de Dinai no Brasil avisou-o que chegaria a Portugal no
início de fevereiro. Com isso, na manhã do dia 1º, assim que Michele saiu para
o trabalho, o acusado matou Thayane e Lidiane, ocultando seus corpos no
interior de uma fossa séptica que ele próprio havia montado no canil. O crime
ocorreu no interior da residência onde moravam, caracterizando a violência
praticada contra a mulher no âmbito da unidade doméstica, conforme prevê a Lei
Maria da Penha. Em seguida, após retirar de sua casa os objetos e documentos
das vítimas, dirigiu-se ao aeroporto para buscar a mulher e a filha que haviam
chegado do Brasil.
Às 19h32, Dinai buscou Michele
no trabalho, em Lisboa, chegando a Tires um pouco antes das 20h30, quando então
a matou, por motivo torpe (para impedir que sua companheira no Brasil soubesse
desse relacionamento e da possível gravidez de Michele). O corpo dela foi
colocado na mesma fossa onde estavam as outras vítimas.
Ocultação dos cadáveres – A
denúncia do MPF afirma que, “após a ocultação dos três cadáveres, Dinai teve o
cuidado de elevar a boia que controlava o nível da água, a fim de que a fossa
ficasse quase cheia, bem como cortou o fio elétrico do alarme de aviso do nível
da água e recolocou a proteção metálica sobre a fossa, tudo com a finalidade de
garantir que os corpos não fossem descobertos”.
Nos dias seguintes, ele usou
diversas estratégias para ocultar a morte das mulheres: ligou para a
empregadora de Michele dizendo que a mãe dela tinha falecido e que, por isso,
ela e a irmã haviam retornado ao Brasil. Depois, entrou em contato, através de
um aplicativo de celular, com a própria mãe de Michele, fazendo de conta que
era a filha que estava enviando as mensagens, nas quais simulava uma situação de
normalidade entre eles.
No dia 22 de fevereiro, Dinai
informou a uma funcionária da Quinta Monte dos Vendavais que sua sogra tinha
falecido e ele teria de retornar ao Brasil, efetivamente fazendo-o no dia
seguinte.
Os investigadores destacaram o
paralelismo encontrado entre o padrão de localização dos telefones celulares de
Michele e Lidiana e os deslocamentos do acusado, indicando que ele esteve todo
o tempo na posse dos aparelhos após a prática dos crimes.
Os cadáveres só foram
encontrados cerca de seis meses depois, em 26 de agosto, durante procedimento
de manutenção da fossa séptica pelo funcionário que sucedeu Dinai no trabalho.
Pena e recurso – O
feminicídio, que é crime hediondo, tem pena prevista de 12 a 30 anos. A
ocultação de cadáver tem pena de 1 a 3 anos. Os jurados condenaram o réu por
todas as qualificadoras apontadas pelo MPF – feminicídio, à traição e para
assegurar a execução de outro crime (para Lidiana e Thayane) e feminicídio, à
traição e por motivo torpe (para Michele), mas o Juízo da 3ª Vara Federal, na
sentença, fixou a pena total em apenas 36 anos e 10 meses de reclusão.
O MPF vai recorrer da sentença
para aumentar a pena de Dinai Alves, por considerar que o quantum fixado não
guarda proporcionalidade com a gravidade dos crimes cometidos, que resultaram
na morte de três jovens mulheres: Michele tinha 28 anos; Lidiana, 16, e
Thayane, 21 anos.
Dinai Alves está preso desde o
dia 5 de setembro de 2016. Desde março de 2022, ele se encontra no Presídio
Inspetor José Martinho Drumond, em Ribeirão das Neves (MG).
Processo
5495-13.2017.4.01.3800.
Fonte: Assessoria de Comunicação Social Ministério Público Federal em Minas Gerais