Pamonha: a tradição familiar que se tornou patrimônio cultural de Patos de Minas

Conheça mais sobre a história e a importância dessa iguaria para a cidade.

Pamonha.

Colher, ralar, limpar, amarrar, cozinhar, servir. Esses são os procedimentos feitos com o milho na produção da pamonha, um dos pratos mais tradicionais de Patos de Minas.

Essa iguaria faz parte do cotidiano de muitas pessoas, tanto como alimento, quanto como fonte de renda. A receita está entre as comidas típicas de estados como Goiás e Minas Gerais e pode ser preparada salgada ou doce, com diversos acompanhamentos. Além disso, por demandar tempo e mão-de-obra, muitas famílias se reúnem para o feitio dessa iguaria, tornando seu preparo um evento de confraternização.

Toda essa riqueza fez com que, no ano passado, a pamonha fosse considerada um Patrimônio Cultural de Patos de Minas. Por isso, é importante conhecer e valorizar a história desse prato tão tradicional da Capital do Milho.

Raízes indígenas, tradição patense

A origem do processo de feitio da pamonha não é recente. De acordo com o historiador Luiz da Câmara Cascudo, em sua obra História da Alimentação no Brasil, a pamonha - junto a outros pratos que têm o milho como ingrediente principal, como a canjica e a pipoca - tem origem na cultura indígena. O próprio nome pamonha vem da palavra pa’amuñã, que, na língua tupi, significa “pegajoso”.

Com o processo de colonização, o feitio da pamonha foi incorporado pelos portugueses e africanos em terras brasileiras e disseminado como uma tradição que dura até os dias de hoje, tendo atingido vários pontos do país. O Alto Paranaíba, em especial, se tornou um local fértil para a perpetuação dessa prática, devido aos grandes índices da produção do milho na região. Segundo informações da Agência Safras, foram plantados nos últimos meses 14 mil hectares de milho no município de Patos de Minas, o que pode render a produção de até 151.200 toneladas do grão só na safra de verão.

Com o milho sendo um dos principais produtos disponíveis, a pamonha se tornou um símbolo da cidade, integrando o cotidiano de muitas pessoas ao longo do tempo. É o caso da funcionária pública Ana Rosa de Magalhães, que considera o feitio da pamonha uma tradição em sua família.

“Desde minha infância, fazemos pamonha, é algo que adoramos fazer. Pode ser difícil, mas é muito prazeroso juntar toda a família nesse processo. Sempre fazemos muita festa”, conta Ana Rosa. “Às vezes, acho que gostamos mais de reunir para fazer a pamonha do que de comer (risos)”.

Com o passar dos anos, as técnicas de produção dessa iguaria se transformaram. De acordo com Ana Rosa, essa evolução tornou o processo mais rápido e menos cansativo.

“Antigamente, era difícil ralar o milho de forma manual, pois era cansativo, e as costas doíam bastante. Agora, existe a máquina de ralar, que acelerou bastante todo o processo”, explica. “Além disso, amarrar as pamonhas também é mais rápido, pois esse passo é feito de maneira individual, sem a necessidade de muitas pessoas, como era antes”.

Força econômica

Além de uma receita tradicional, a pamonha também tem sua importância econômica para a cidade. Segundo levantamento do Patos Hoje, são cinco estabelecimentos em Patos de Minas que assumem o nome de “pamonharia”, fora o comércio feito diretamente com os produtores rurais. De acordo com a economista e educadora financeira Isabela Amâncio, a receita tem um papel importante no setor alimentício da cidade, que recebe muitas pessoas de outras regiões.

“Por ser considerada um polo regional em serviços, educação e saúde, Patos de Minas atrai muitas pessoas das regiões próximas em busca de atendimentos nessas áreas. Essa circulação de pessoas movimenta nossa economia e gera demanda para o setor de alimentação, que se destaca pela composição de pratos derivados do milho, como a pamonha. Assim, a receita se torna um destaque econômico dentro do setor de alimentos por ser um prato típico da região”, explica a economista.

A produção de pamonha se tornou o sustento de muitas famílias, como a de Maria Laudiene Pereira. Fazedora de pamonhas há duas décadas, ela conta que construiu sua qualidade de vida a partir do feitio do prato e de suas vendas em um estande no Galpão do Produtor Rural.

“Trabalho exclusivamente com o preparo da pamonha há mais de 20 anos, e todo meu sustento vem desse processo”, relata Maria Laudiene, que destaca a força do mercado de pamonhas na cidade. “A região de Patos de Minas é muito forte nessa área. Assim como a minha, existem outras 25 famílias que vivem a partir dos lucros da venda da pamonha, que não é muito, mas é real e nos dá uma boa condição de vida”.

Maria Laudiene conta ainda que, assim como Ana Rosa, acredita que estar em conjunto com a família no processo de produção é a melhor parte do feitio da pamonha.

“A pamonha tem a magia de reunir as pessoas. Vejo sempre as famílias que têm lavouras de milho no ponto se juntando para preparar, pois é um processo difícil, que dá trabalho. Mesmo assim, quando todos se juntam, é um momento de união, de contato. Essa aproximação que o milho proporciona me encanta muito”, afirma.

Patrimônio cultural

A valorização das vertentes gastronômicas, econômicas e socioculturais dessa receita fez com que o feitio da pamonha fosse considerado um Patrimônio Cultural de Patos de Minas, por meio do Decreto Municipal nº4608, de 13 de maio de 2019. A atividade também foi reconhecida como patrimônio cultural do município na esfera estadual em junho deste ano, após aprovação do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha/MG).

Para o historiador e atual Diretor de Memória e Patrimônio Cultural de Patos de Minas, Geenes Alves, a determinação é uma vitória para a cidade, que passa a contar com mais uma tradição cultural reconhecida pelas instituições públicas.

“Patos de Minas ganha notoriedade estadual e nacional por essa caminhada de identificação, registro e proteção dos seus patrimônios culturais. Além disso, essa decisão registra o que há de mais rico na História, que são nossas tradições, costumes e valores”, destaca Geenes.

Com a decisão do Iepha, o município de Patos de Minas ainda passa a receber mais verbas da Lei Robin Hood, que está ligada à manutenção dos patrimônios culturais de cada cidade. Segundo Geenes, isso aumenta ainda mais a responsabilidade de promover e apoiar a produção da pamonha no município.

“A Prefeitura passará a acompanhar e documentar de perto, ano a ano, o processo de feitio da pamonha e suas eventuais mudanças e transformações, buscando fomentar a tradição. Há, por exemplo, a proposta de criação de uma Associação dos Fazedores de Pamonha, para que haja um movimento institucionalizado que, assim como o poder público, se interesse pelo processo de feitio da pamonha e pela sua proteção”, explica o diretor.

Para a economista Isabela Amâncio, a determinação também auxilia no fomento ao turismo na região.

“Agora como patrimônio cultural, a pamonha é um aspecto gastronômico convidativo a turistas, ou seja, tem impactos no setor de turismo para atrair pessoas a esse patrimônio. Por isso, é importante fortalecer a imagem cultural da receita e a estrutura da cidade para receber turistas de regiões diversas”, afirma.

Muito além dos impactos econômicos, porém, a elevação da pamonha ao status de patrimônio cultural é um reconhecimento do trabalho dos produtores, que mantém essa tradição viva e presente no cotidiano da população patense.

“É uma sensação única de gratidão saber que uma tradição que vem desde os meus antepassados está sendo reconhecida como valiosa para a cidade”, relata Maria Laudiene, que participou do processo de inscrição da pamonha como um patrimônio cultural. “Ter sido escolhida para fazer parte dessa história foi uma honra, e sei que minha missão é melhorar e me dedicar cada dia mais para ser merecedora desse reconhecimento”.

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