Brasileiros centenários: envelhecimento acelerado desafia o país
Avaliação é de especialistas ouvidos pela Agência Brasil
A sexagenária Brasília tem exatos 300 habitantes com 100
anos ou mais, segundo o Censo Populacional de 2022, do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). Com 103 anos, um desses centenários é Ermando
Armelindo Piveta, militar reformado da Força Expedicionária Brasileira (FEB) e
pioneiro na capital federal.
Nascido em Laranjal Paulista (SP) em 1920 – mesmo ano de nascimento do poeta João Cabral de Melo Neto, da escritora Clarice Lispector, do craque Heleno de Freitas e do ator Anselmo Duarte –, Piveta viveu ao menos duas grandes aventuras brasileiras do século 20: a participação na Segunda Guerra Mundial contra as forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), e a construção da nova capital federal.
Ermando Piveta diante de Igreja em Fernando de Noronha
quando serviu o Exército na 2a Guerra Mundial. Foto: Arquivo Pessoal
Em setembro de 1942, um mês depois de o Brasil entrar na
guerra, Ermano Piveta foi chamado para prestar serviço militar no 4º Regimento
de Artilharia Montada do Exército, baseado em Itu (SP). “Naquele tempo não
tinha sorteamento. Era convocado”, lembra, em vídeo gravado por sua filha
Vivian Piveta e enviado à Agência Brasil.
O senhor Ermando Piveta, de 99 anos, ex-integrante da Força
Expedicionária Brasileira (FEB), recebeu alta da COVID-19 no Hospital das
Forças Armadas (HFA)
Longevidade
Centenários como Ermano Piveta representam 0,018% da
população brasileira, ou 37.814 pessoas (27.244 mulheres e 10.570 homens) que
cruzaram a linha de um século de vida. Os números na casa do milhar parecem
modestos diante do total de 203.080.756 habitantes, mas, comparando as somas do
Censo de 2010 e a contagem do Censo de 2022, o número de “superidosos” cresceu
66,7% (15.138 pessoas a mais). O dado é indicador da longevidade ascendente da
população.
Quanto à atuação do Estado e às políticas públicas, o país
avançou no reconhecimento legal de direitos, reconhece Daniella Jinkings. No
entanto, ela assinala que “vários serviços que estão na Política Nacional da
Pessoa Idosa, reiterados no Estatuto da Pessoa Idosa, ainda não saíram do
papel". "Não temos serviços de cuidado domiciliar, temos uma rede
muito pequena de centros dia para pessoas idosas ou de instituições de longa
permanência. A integração entre as políticas intersetorialmente ainda é
difícil”, avalia.
A média da expectativa de vida projetada em 2021 era de 77
anos – de 80,5 anos para mulheres e 73,6 anos para homens. Esses resultados
serão atualizados com as estatísticas do Censo 2022, que deverão confirmar a
tendência de envelhecimento, notada nas últimas décadas quando além do aumento
da longevidade ainda se observou a diminuição do nascimento de bebês. A taxa de
fecundidade (também em 2021) era de 1,76 filho por mulher.
A previsão é que no futuro o Brasil terá mais velhos do que
crianças. Projeção publicada pelo Ministério da Fazenda - feita pela analista
técnica de políticas sociais Avelina Alves Lima Neta – calcula que, em 2060,
“para cada 100 pessoas entre 0 e 14 anos teremos 206,2 idosos acima de 65 anos,
ou seja, dois idosos nessa faixa etária para cada uma criança ou adolescente
(0-14).”
Bem antes disso, a população brasileira começará a diminuir
de tamanho por causa da redução da fecundidade. Um estudo do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), assinado pela técnica de planejamento e
pesquisa Ana Amélia Camarano, prevê que a população brasileira crescerá até
2030, quando atingirá seu máximo em “aproximadamente 215 milhões.” A partir
daí, o desenho da curva se inverte, deixa de ser de crescimento populacional,
pois o número de brasileiros começa a diminuir e em 2040 chegará a cerca de 209
milhões, 6 milhões a menos do que na década anterior.
O mercado de trabalho e a Previdência Social serão bastante
impactados pelo envelhecimento e pela diminuição da população durante a
formação desses cenários. É possível que as pessoas permaneçam trabalhando por
mais tempo e que tenham que se tornar mais produtivas – gerar mais valor naquilo
que fazem, com menos recurso e/ou em menos tempo.
A análise do Ipea alerta que “aumentar a produtividade do
trabalho é condição fundamental para diminuir os efeitos da redução
populacional na competitividade da indústria e, por isso, ela deveria ser um
dos objetivos centrais das políticas que visem a aumentar a competitividade e
criar empregos". "O aumento da produtividade poderia, também,
minimizar a redução da massa salarial, que é resultado da diminuição da força
de trabalho, e melhorar a relação contribuinte/beneficiário e as condições
atuariais atuais do sistema previdenciário”, acrescenta.
O estudo evidencia que cuidar dos idosos vai além da assistência social: “A manutenção do trabalhador na atividade econômica por mais tempo requer políticas de inclusão digital, capacitação continuada, saúde ocupacional, adaptações no local de trabalho, como cargos e horários flexíveis, redução de preconceitos com relação ao trabalho do idoso, melhoria no transporte público, entre outras.”
Fonte: Agência Brasil