A bolsa paulista começava a semana com fortes perdas, acionando o mecanismo de circuit breaker nesta segunda-feira pela primeira vez em três anos, após o Ibovespa cair 10%, em meio ao nervosismo global.

A correria de venda entre os investidores fazia Petrobras desabar mais de 20% e perder 81 bilhões de reais em valor de mercado, na esteira do tombo dos preços do petróleo no exterior.

Às 12:20, o Ibovespa caía 9,17 %, a 89.011,31 pontos. O volume financeiro somava 12,2 bilhões de reais.

Por volta de 10:30, a bolsa acionou o circuit breaker, quando o Ibovespa tocou 88.178,33 pontos, uma queda de 10,25%. Os negócios foram paralisados por 30 minutos. Na volta, o Ibovespa renovou mínima em 87.954,79 pontos, tocando patamares de dezembro de 2018.

A última vez que o circuit breaker foi acionado foi em 18 de maio de 2017, no que ficou conhecido no mercado como “Joesley Day”, um dia após vir a público gravação de conversa entre o então presidente Michel Temer e o empresário Joesley Batista, bem como sua delação relacionada a atos de corrupção envolvendo políticos.

Nesta segunda-feira, o gatilho para as fortes vendas na bolsa veio do Oriente Médio, após a Arábia Saudita ter sinalizado que elevará a produção para ganhar participação no mercado, bem como cortado preços oficiais de venda de petróleo, o que fez os preços da commodity caírem mais de 30% no pior momento, o maior recuo diário desde a Guerra do Golfo, em 1991.

O Goldman Sachs cortou previsão para os preços do petróleo Brent para o segundo e terceiro trimestres de 2020 para 30 dólares o barril, “com possíveis quedas de preços para níveis de estresse operacional e custos de caixa bem próximos de 20 dólares o barril”, conforme relatório a clientes.

As ações dos sauditas eram mais um componente negativo a um mercado já avesso a risco pelas preocupações relacionadas ao novo coronavírus. Wall Street tinha quedas ao redor de 6%.

“Ainda estamos passando por um momento perigoso, com extrema volatilidade...não bastasse a piora no quadro da epidemia de coronavírus ameaçar estancar todo o crescimento econômico previsto, neste final de semana tivemos a guerra aberta pela Arábia Saudita no front da produção de petróleo contra a Rússia”, chamou a atenção a equipe do BTG Pactual.

Isso “pegou uma mercado fragilizado, ainda muito comprado levando os investidores ao pânico”, destacou em nota a clientes, ressaltando que, neste momento, é necessário muita cautela, enquanto agentes estão ainda na fase de descoberta de quais os preços estarão corretos para as novas condições de PIB global.

De acordo com o gestor Werner Roger, sócio-fundador da Trígono Capital, muitos investidores reagem em situação de pânico, mas ainda não se pode dizer nada sobre a duração ou intensidade do estresse experimentado pelos mercados. “Cada dia surge um fato novo. Pode sair um fato novo positivo que reverte tudo, ou outro que piora mais ainda.”

DESTAQUES

- PETROBRAS PN afundava 24,3% e PETROBRAS ON derretia 23,2%, afastando-se das mínimas, contudo, quando o declínio chegou a representar uma perda de quase 81 bilhões de reais em valor de mercado. A Petrobras disse que está monitorando o mercado de petróleo, mas considera que é cedo para falar de impactos sobre suas operações. No exterior, os preços do petróleo também reduziram a queda e o Brent caía ‘apenas’ 19%.

- VALE ON mostrava declínio de 9,3%, contaminada pela onda de vendas generalizadas, com o minério de ferro na China também fechando em baixa. A Vale também divulgou nesta segunda-feira que o talude norte da cava de sua mina de Gongo Soco, em Barão de Cocais (MG), “continua deslizando para dentro da estrutura”.

- ITAÚ UNIBANCO PN perdia 6,2% e BRADESCO PN caía 6,6%, também afetados pelo clima negativo no mercado como um todo. BTG PACTUAL UNIT liderava as perdas entre os bancos do Ibovespa, com queda de 12%.

- VIA VAREJO ON despencava 16%, também entre as maiores quedas, tendo de pano de fundo forte valorização do papel em 2019 e no começo do ano. A rival MAGAZINE LUIZA ON perdia 8%.

- HYPERA ON caía 8%, tendo no radar resultado divulgado após o fechamento do mercado na sexta-feira, com queda de 22,9% no lucro líquido do quarto trimestre, para 238,8 milhões de reais no quarto trimestre de 2019. A empresa afirmou em teleconferência sobre o resultado que deve reduzir promoções e descontos em 2020 e contratar hedge para aquisição de parte de ativos latino-americanos da Takeda.

Fonte: Reuters