Um grupo de venezuelanos ligados ao autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, entrou nesta quarta-feira na embaixada do país em Brasília, segundo eles, depois de terem tido o acesso liberado por servidores da representação, enquanto diplomatas ligados ao governo de Nicolás Maduro acusaram os ocupantes de terem invadido o local.

De acordo com informações passadas pela assessoria de María Teresa Belandria, a embaixadora de Guaidó no Brasil, funcionários da embaixada liberaram a entrada do ministro-conselheiro do governo interino, Tomás Silva. Ao ingressar no local, ele e outros membros do grupo de apoio a Guaidó encontraram venezuelanos que moram na representação diplomática.

Segundo informações levantadas pelo Itamaraty, ao saber de da entrada do grupo de Guaidó, representantes de Maduro que ainda estão no Brasil —entre eles o encarregado de negócios e o adido militar— foram até o local para tentar retirá-los, e a situação chegou a ficar tensa.

Um diplomata brasileiro foi enviado ao local, junto com o batalhão Rio Branco —a tropa da Polícia Militar do Distrito Federal encarregada da segurança das embaixadas— para tentar mediar a situação.

Em nota, Belandria afirmou que o Itamaraty foi avisado imediatamente da entrada na embaixada, o que os diplomatas brasileiros negam. O Itamaraty informa que foi avisado apenas na manhã desta quarta, quando enviou um representante para mediar a situação.

O governo brasileiro, no entanto, não tem jurisdição sobre a embaixada, que é oficialmente território venezuelano. De acordo com uma fonte diplomática, a situação é confusa, com um grupo acusando o outro de invasão, e há um impasse no momento.

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, discutiu a situação com o presidente Jair Bolsonaro nesta manhã e o Itamaraty deve soltar uma nota, segundo uma fonte da diplomacia brasileira.

O chanceler do governo Maduro, Jorge Arreaza, afirmou no Twitter que a embaixada foi “invadida à força na madrugada” e cobrou o governo brasileiro a garantir a segurança de seu pessoal e de suas instalações. “Exigimos respeito à Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas”, afirmou.

Por volta das 11h da manhã, os aliados de Guaidó ainda estavam dentro da embaixada e os apoiadores de Maduro, do lado da fora. A PM fazia a segurança do entorno.

O governo brasileiro reconheceu Belandria e sua equipe como representantes acreditados do governo de Guaidó em Brasília e não renovou as credenciais dos representantes do governo de Maduro. Os diplomatas, no entanto, não foram expulsos. De acordo com o Itamaraty, é necessário manter as relações consulares entre os dois países, mesmo que a relação diplomática com o atual governo seja praticamente inexistente.

A crise na embaixada acontece às vésperas do início da reunião de cúpula dos Brics (Brasil, Rússia, índia, China, África do Sul), com Brasília tomada por um alto grau de segurança. A Venezuela promete ser um ponto de divergência entre os países.

Enquanto em anos anteriores havia um acordo na defesa do diálogo com o governo de Maduro, dessa vez o novo governo brasileiro tem posição oposto a China e Rússia, que ainda mantêm relações com Maduro.