O dólar à vista cravou novos recordes históricos nesta sexta-feira, fechando na maior cotação nominal já registrada e chegando durante os negócios a ficar mais perto do nível de 4,29 reais, em meio a mais um dia bastante negativo nos mercados globais devido ao medo dos efeitos econômicos do coronavírus.

No mercado futuro, a cotação não só encostou nos 4,29 reais como superou esse patamar. A máxima do contrato de dólar futuro com vencimento em fevereiro era de 4,2960 reais até o momento. As operações no segmento futuro da B3 se encerram às 18h15 (de Brasília).

No mercado spot, cujas negociações terminam às 17h, o dólar fechou esta sexta-feira em alta de 0,63%, a 4,2858 reais na venda, deixando para trás o pico histórico para um encerramento registrado na véspera (4,2589 reais na venda).

Na máxima do pregão, a divisa foi a 4,2873 reais na venda, superando em quase 1 centavo a taxa de 4,2785 reais na venda marcada durante a sessão de 26 de novembro do ano passado.

Em janeiro, a moeda disparou 6,80%, maior alta para qualquer mês desde agosto de 2019 (+8,51%) e mais intensa para meses de janeiro desde 2010 (+8,86%).

O medo do coronavírus continuou a servir de argumento para uma liquidação em ativos de risco em todo o mundo, com moedas emergentes em forte queda e as bolsas de valores de Nova York cedendo entre 1,6% e 2,1%.

“É um risk-off (fuga de risco) global. O real está indo junto. Não parece haver nada específico do nosso mercado, falta de liquidez ou algo assim”, disse Daniel Tatsumi, gestor de moedas da ACE Capital.

O grau de incerteza no mercado de câmbio voltou a subir. A volatilidade implícita das opções de dólar/real com vencimento em três meses saltou de 9,8% na véspera para 10,4% nesta sexta-feira, nas máximas em mais de três semanas e longe da mínima recente de 9,03%.

Na semana, o dólar saltou 2,39%, quinta semana consecutiva de ganhos e a mais forte valorização semanal desde a semana finda em 8 de novembro de 2019 (+4,34%). A apreciação ocorreu a despeito de o Banco Central “ter voltado” ao mercado —com anúncio de rolagens de swaps cambiais e de linhas de dólares com compromisso de recompra, depois de um hiato de cerca de um mês. Não houve, porém, ofertas líquidas de moeda.

“O BC só atua quando detecta alguma disfuncionalidade. E não parece ser o caso agora. Além disso, por nossas contas, 70% da desvalorização do real neste mês veio do exterior, e o restante da expectativa de mais corte de juros”, afirmou Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil.

O estrategista destacou a manutenção dos prêmios de risco-país em patamares baixos, o que para ele é indicativo de que a queda do real não reflete piora de fundamentos do Brasil. O CDS de cinco anos caía a 100,00 pontos-base nesta sexta, de 100,520 pontos na quinta-feira.

Para fevereiro, o alento ao câmbio pode vir de fluxos decorrentes de operações nos mercados de capitais, sobretudo a venda pelo BNDES de ações da Petrobras e a esperada venda pela estatal petrolífera de participação na BR Distribuidora.

“Além disso, tem o ajuste no ‘over-hedge’ dos bancos com a mudança na CSLL”, lembrou Tatsumi, da ACE Capital.

Fonte: Reuters