Pesquisadores da Fundação Centro Tecnógico de Minas Gerais (Cetec), em parceria com a empresa Biotécnica Indústria e Comércio, estão desenvolvendo em Minas um kit para monitorar a qualidade do leite consumido no Estado. A novidade vai ajudar produtores e consumidores que poderão monitorar a qualidade do produto, verificar se ele tem qualidade sanitária e nutricional que são recomendadas ou se prevenir contra alterações. O kit ficará pronto em prazo máximo de dois anos. A proposta para desenvolver o trabalho em laboratórios do Cetec foi aprovada por meio de edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), número 21/07, do Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas (Pappe).

A Fundação liberou recursos de cerca de R$ 490 mil para que a Biotécnica possa desenvolver um kit para o monitoramento da qualidade do leite mais simples e rápido do que os procedimentos de análise tradicionais. Para que esse kit possa ser validado como um instrumento eficiente de análise, o Cetec fará a validação do kit por comparação com os procedimentos utilizados convencionalmente em laboratórios de análise de alimentos.

De acordo com a pesquisadora do Setor de Biotecnologia e Tecnologia Química, Christiane Contigli, um dos focos de interesse do Cetec na área de qualidade de produtos alimentícios é relacionado à qualidade do leite e laticínios, e ao apresentar a demanda à Biotécnica, os pesquisadores da empresa tiveram a idéia de fazer um kit de análise que atenderia esse interesse. “A Biotécnica tem experiência reconhecida em desenvolvimento de produtos para diagnóstico e somos parceiros em outras iniciativas que aguardam financiamento. Decidimos, então, entrar juntos também nesse edital, dando apoio tecnológico à idéia dos pesquisadores associados à empresa. Eles vão desenvolver o kit e nós vamos validá-lo frente a outras metodologias existentes”, explica a pesquisadora.

Simplicidade

O coordenador do projeto e consultor de pesquisa e desenvolvimento da Biotécnica, Márcio Henrique Lacerda Arndt, acredita que o kit deverá ter, no máximo, o tamanho de uma caixa de 25 X 20 X 15 centímetros. Ele será portátil e simples de usar. “O kit será composto por uma caixa contendo um suporte para reação, reagentes em frascos conta-gotas e instruções operacionais. Não serão utilizados compostos perigosos ou tóxicos na sua fabricação, mas sua composição química ainda é informação restrita aos pesquisadores envolvidos no projeto.”

O consultor explica, ainda, que a reação será feita em um recipiente de acrílico transparente, onde serão misturados os reagentes e uma amostra do leite em análise. De acordo com Arndt, “a intensidade da coloração, comparável a uma escala de cores que acompanha o produto, indicará a concentração de cada tipo específico de resíduo ou aditivo na amostra. Poderão ser identificados resíduos de fermentação anormal do leite e alguns tipos de alterações mais freqüentes”.

Christiane explica quais as alterações mais comumente encontradas no produto. Segundo ela, a água oxigenada é usada para matar ou impedir o crescimento de microrganismos, sendo tóxica quando em grande concentração. Apesar de se degradar depois de algum tempo, acaba diluindo os nutrientes presentes no leite. Já a soda cáustica é uma das bases que podem ser usadas para controlar a acidez do leite e evitar que este talhe. Essa acidez resulta do crescimento microbiano. “Essas duas alterações são usados para mascarar possíveis contaminações microbiológicas, decorrentes da manipulação do leite em condições de higiene inadequadas. Menos prejudicial à saúde é a diluição com água para aumentar o volume do produto, mas que diminui a concentração dos nutrientes. Além de comprar um leite que pode estar contaminado com microrganismos ou toxinas microbianas, o consumidor está sendo enganado com relação ao poder nutricional do produto”, completa.

O kit terá como público-alvo as indústrias e transportadoras de leite, que poderão avaliar a qualidade do produto antes de encher os caminhões e transportá-lo aos locais de beneficiamento. Além disso, estabelecimentos comerciais e o consumidor final também poderão utilizá-los, já que os kits serão de fácil manuseio.

A duração do projeto será de dois anos para desenvolvimento e validação do kit. Este deverá estar pronto para ser comercializado no ano seguinte ao final do projeto, após registro no Ministério da Agricultura e no Ministério da Saúde (ANVISA), e com o registro de patente em andamento.

Christiane enfatiza a importância de desenvolver um kit que torne mais prático o monitoramento da qualidade do leite desde o produtor até o consumidor. Segundo ela, o principal prejuízo que um leite adulterado pode causar à saúde é a intoxicação alimentar, decorrente das condições sanitárias deficientes durante seu processamento. Atualmente não existe nenhuma forma do próprio consumidor verificar se o leite realmente tem a qualidade sanitária e nutricional que são recomendadas ou se prevenir contra alterações.